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sexta-feira, 29 de maio de 2015

Novos fósseis da Etiópia vêm complicar mais a história da evolução humana

Muito perto do sítio onde se tinha descoberto, em 1974, o esqueleto de Lucy, o australopiteco mais famoso, encontraram-se agora alguns ossos da cara de um pré-humano. Têm cerca de 3,5 milhões de anos e a equipa que os descobriu diz que são de uma nova espécie de australopiteco. Mas há cientistas que já discordam.
Primeiro os factos: a revista Nature publica esta quinta-feira um artigo científico que anuncia a descoberta de uma nova espécie de australopiteco. A equipe de Yohannes Haile-Selassie, do Museu de História Natural de Cleveland, nos EUA, chama-lhe Australopithecus deyiremeda e fundamenta a existência deste novo australopiteco na descoberta de duas mandíbulas e de um maxilar, com 3,3 a 3,5 milhões de anos, na região de Afar, na Etiópia, em 2011. Muito perto desse sítio tinha-se encontrado, em 1974, o celebérrimo esqueleto de Lucy, uma fêmea da espécie Australopithecus afarensis. Para a equipa, os novos fósseis são uma confirmação indubitável de que pelo menos duas espécies de pré-humanos viveram na mesma região e ao mesmo tempo, numa altura em que já não faltava muito para o aparecimento do género Homo — ou seja, dos primeiros humanos.
Actualmente, já se sabe que entre há três e quatro milhões de anos, na época do Plioceno Médio, o planeta era povoado por mais do que uma espécie de hominíneos — a subfamília de todos os nossos antepassados a seguir à separação do ramo dos chimpanzés, o que ocorreu há cerca de oito milhões de anos. Hoje, somos o único membro dessa subfamília. Mas nem sempre a ideia de existência de vários hominíneos no Plioceno Médio, e na mesma área geográfica, foi facilmente aceite. Essa altura é particularmente importante na história da evolução humana por ser pouco tempo antes do aparecimento dos humanos.
Durante muito tempo, parecia que uma espécie de hominíneos tinha dado lugar a outra e depois esta a outra, até que apareceram os primeiros Homo, há 2,8 milhões de anos. Era pelo menos o que se pensava que indicavam os fósseis que se iam descobrindo. Só que a árvore da evolução humana tem muitos ramos, alguns simultâneos, que secaram pelo caminho — no fundo, experiências evolutivas que não desembocaram em nada.
A ideia da coexistência de vários hominíneos ganhou peso com a descoberta dos fósseis do Australopithecus bahrelghazali (embora hoje haja dúvidas de que se trate de um novo australopiteco e muitos cientistas consideram-no, afinal, um Australopithecus afarensis), em 1995 no Chade, e do Kenyanthropus platyops, em 1998 no Quénia. Tanto o Australopithecus bahrelghazali como o Kenyanthropus platyops (ou “homem do Quénia com face plana”) viveram justamente há cerca de 3,5 milhões de anos no Leste de África — ou seja, na mesma altura e na mesma área geográfica de Lucy, cuja descoberta representou um marco na paleoantropologia e ainda hoje é uma super-estrela entre os fósseis pré-humanos.
Classificada logo em 1978 como Australopithecus afarensis, a Lucy viveu há 3,2 milhões de anos, media cerca de um metro de altura e — o mais surpreendente — já era bípede. Até à descoberta do seu esqueleto, não existiam provas concretas desse modo de locomoção numa espécie de hominíneos com mais de dois milhões de anos. Os ossos da bacia, das pernas e dos pés de Lucy foram provas essenciais. Além de caminharem em duas pernas, sabemos agora que os indivíduos da mesma espécie de Lucy — que existiu num período de tempo entre há 3,8 e 2,9 milhões de anos — também se sentiam confortáveis em trepar às árvores.
Agora, a equipa coordenada por Yohannes Haile-Selassie encontrou o maxilar, ainda com os dentes, e as duas mandíbulas (de indivíduos diferentes, portanto) de um hominíneo na área de Woranso-Mille, na região de Afar. Em Março de 2011, os cientistas estavam à procura de fósseis naquela área porque já tinham encontrado aí a impressão parcial de uma pegada de hominíneo, datada com 3,4 milhões de anos e que consideraram, num artigo na revista Nature em 2012, revelar uma nova maneira de andar e confirmar a diversidade nos hominíneos do Plioceno Médio. “O espécime era contemporâneo do Australopithecus afarensis, mas demonstrava a existência de um modo distinto de locomoção bípede”, lembra agora a equipa de Yohannes Haile-Selassie.. Mas sem ossos do crânio, incluindo mandíbulas, maxilares e dentes, era difícil identificar o autor da pegada parcial.

Encontraram realmente ossos, mas como nenhum estava associado à pegada parcial, continua a não ser possível atribuir-lhe um autor. Mas a equipa considerou que lhe saiu na mesma a sorte grande, uma vez que classificou os ossos como sendo de uma nova espécie de australopiteco. Os cientistas consideraram que, apesar de os ossos da cara e os dentes terem mais características de australopiteco do que de outros hominíneos, tinham diferenças suficientes para serem atribuídos a uma espécie nova de australopiteco. Eis assim o Australopithecus deyiremeda, em que a designação específica é composta por duas palavras da língua da região de Afar: deyi, que significa “próximo”, eremeda, que quer dizer “parente”, porque, argumentam os cientistas, “esta espécie é um parente próximo de todos os hominíneos posteriores”.

Fonte: Publico
Link: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/novos-fosseis-da-etiopia-vem-complicar-um-pouco-mais-a-historia-da-evolucao-humana-1697112

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Canais de civilização anterior aos Incas podem solucionar a crise hídrica de Lima


Durante sete meses do ano, a população de Lima, capital peruana, enfrenta racionamentos constantes de água devido ao clima desértico; mas, nos cinco meses restantes, o degelo da Cordilheira dos Andes faz com que os três rios que cortam a região fiquem tão cheios que chegam a causar enchentes e deslizamentos de terra.

Toda essa água acaba indo parar no Oceano Pacífico. Para evitar os cortes no abastecimento da cidade, o caminho mais lógico a se seguir seria dar um jeito de reaproveitar esse volume todo durante a estação seca.

Um estudo recente comprovou que a melhor solução para o problema já havia sido inventada há 1500 anos pelo povo Wari, uma civilização que prosperou no local séculos antes do império Inca.

Eles criaram um sistema de canais de pedra que chamavam de amunas, cujo funcionamento era relativamente simples mas muito eficaz: no período de cheia, parte da água dos rios Rimac, Chillon e Lurin era desviada do alto das montanhas para regiões onde pudesse se infiltrar entre as pedras.

Seguindo um sistema sem impactos ambientais, o líquido abastece naturalmente riachos que correm em níveis mais baixos da cordilheira, garantindo que o curso não seque durante os sete meses áridos.

“A ideia é construir um atraso no sistema hidrológico, retardando o fluxo de água por semanas ou mesmo meses, até que beneficie o abastecimento na temporada seca”, explicou a New Scientist Bert De Bièvre, hidrólogo da ONG local Condesan, que realizou o estudo em parceria com a ONG Forest Trends, de Washington.

O projeto descobriu que, reforçando a estrutura já existente de cerca de 50 amunas com concreto, seria possível acrescentar um montante de 26 milhões de metros cúbicos ao abastecimento de Lima durante os tempos de seca, o suficiente para reduzir o déficit atual da cidade em 60%.

Os pesquisadores concluíram também que, entre as alternativas disponíveis, esta é, de longe, a mais eficiente: ela custa um centésimo do valor de uma usina de dessalinização que está sendo estudada pelas autoridades locais.

A Sedapal, companhia que gerencia o abastecimento em Lima, anunciou que financiará o projeto das amunas – ao longo de cinco anos, 1% da arrecadação com as contas de água serão usados para arcar com os custos, estimados em 23 milhões de dólares.

FONTE: GALILEU 

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Geoglifos do Acre são indicados para lista de patrimônios mundiais

Geoglifos acreanos foram indicados para se tornar patrimônio mundial em 2015
                               Foto: Diego Gurgel


A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) incluiu os geoglifos acreanos na lista indicativa do Brasil para se tornar um patrimônio mundial em 2015. Isso significa que os geoglifos serão avaliados e, posteriormente, poderão ser apresentados ao Comitê do Patrimônio Mundial. Esta pode ser a primeira vez que o Acre terá um bem exclusivamente seu indicado como um patrimônio mundial.

Além dos geoglifos, a nova lista brasileira teve outros cinco monumentos: Teatros da Amazônia (AM e PA), Itacoatiaras do Rio Ingá (PB), Barragem do Cedro nos Monólitos de Quixadá (CE), Sítio Roberto Burle Marx (RJ) e o Conjunto de Fortificações do Brasil (AP, AM, RO, MS, SP, SC, RJ, BA, PE, RN).

A última atualização da Unesco, realizada em 2014, incluiu três patrimônios culturais brasileiros, fazendo com que o país ficasse com 18 bens naturais e culturais. Os três do ano passado foram:  Cais do Valongo (RJ), a Vila Ferroviária de Paranapiacaba (SP) e o Ver-o-Peso (Belém/PA). A partir de agora, com os seis novos indicados, serão 24 bens, incluindo os geoglifos do Acre.

Mas o que fazer parte desta lista indicativa representa? A exposição como um patrimônio cultural facilita as iniciativas e esforços para a preservação dos bens, tanto em âmbito local e regional, quanto nacional e até internacional.  Também chama a atenção para que entidades representativas e até empresas em contato com a Convenção do Patrimônio Mundial da Unesco explorem, com responsabilidade, o potencial turístico destes bens culturais.

Saiba mais sobre os geoglifos - As primeiras figuras descobertas dos geoglifos foram descobertos em 1927, na linha de Nazca, no Peru. Apenas no final da década de 70, em 1977, eles foram encontrados também no Acre, após um pesquisador notá-los em um voo comercial. Desde então, passaram a ser estudos mais a fundo, ganhando ampla repercussão no Brasil e no exterior. Centenas de figuras já foram achadas e catalogadas aqui.

Os geoglifos são figuras geométricas, feitas de estruturas de terra escavadas no solo e formadas por valetas e muretas. Há um grande mistério sobre que povos teriam construído os geoglifos. Pesquisas arqueológicas indicam a possibilidade de terem sido grupos indígenas que teriam habitado a região leste do Acre e sudoeste da Amazônia em sociedades pré-coloniais.


FONTE: A Gazeta do Acre

terça-feira, 31 de março de 2015

Quinze mudanças que nos fizeram humanos

 
Mudanças genéticas em ancestrais humanos determinaram "vantagens" na vida moderna. 


Os humanos são provavelmente a espécie mais curiosa que já existiu.

Temos cérebros muito maiores que os de outros animais e que nos permitem construir utensílios, entender conceitos abstratos e usar a linguagem.

Mas também temos poucos pêlos, mandíbulas fracas e demoramos para dar à luz.

Como a evolução explica essa criatura extravagante?

1. Viver em grupo

 
Há 30-60 milhões de anos


Os primeiros primatas, grupo que inclui macacos e humanos, surgiram pouco depois do desaparecimento dos dinossauros. 

Muitos começaram rapidamente a viver em grupos para melhor se defenderem de predadores, e isso exigiu de cada animal "negociar" uma rede de amizades, hierarquias e inimizades.

Sendo assim, viver em grupo pode ter impulsionado um aumento da capacidade intelectual.
 

2. Mais sangue no cérebro

 
Há 10-15 milhões de anos


Humanos, chimpanzés e gorilas descendem todos de uma espécie desconhecida e extinta de hominídeo.

Neste ancestral, um gene chamado RNF213 evoluiu rapidamente e pode ter estimulado o fluxo de sangue para o cérebro ao ampliar a artéria carótida.

Nos humanos, as mutações do RNF213 causam a doença de Moyamoya - um estreitamento da carótida que leva ao deterioramento da capacidade cerebral por conta da pouca irrigação do cérebro.


3. A divisão dos primatas

 
Há 7-13 milhões de anos


Nossos ancestrais se separaram de seus parentes parecidos com os chimpanzés há cerca de 7 milhões de anos. No início, tinham uma aparência bem similar, mas por dentro suas células estavam em marcha.

Os genes ASPM e ARHGAP11B entraram em mutação, assim como um segmento do genoma humano chamado HAR1.
Ainda não está claro o que provocou essas modificações, mas o ARHGAP11B e o HAR1 estão associados ao crescimento do córtex cerebral

4. 'Picos' de açúcar 

Depois que a linha evolutiva humana se separou da linha dos chimpanzés, dois genes sofreram mutações.

 Há menos de sete milhões de anos 


O SLC2A1 e o SLC2A4 formam proteínas que transportam glicose para dentro e para fora das células.

Essas modificações podem ter desviado glicose dos músculos para o cérebro de hominídeos primitivos e é possível que tenha estimulado o crescimento do órgão.

5. Mãos mais hábeis

Nossas mãos são incrivelmente hábeis e nos permitem construir ferramentas ou escrever, entre outras atividades.

 
Há menos de 7 milhões de anos 


Isso pode se dever em parte a um fragmento de DNA chamando HACNS1, que evoluiu rapidamente desde que nossos ancestrais e os ancestrais dos chimpanzés se dividiram.
Não se sabe o que o HACNS1 faz exatamente, mas ele contribuiu para o desenvolvimento de nossos braços e mãos.

6. Mandíbulas fracas: mais espaço para o cérebro

Em comparação com outros primatas, os humanos não podem morder com muita força porque têm músculos mais fracos em volta da mandíbula, bem como mandíbulas menores.

 Há 2,4 - 5,3 milhões de anos 


Isso parece se dever a uma mutação do gene MYH16, que controla a produção de tecido muscular. A mutação ocorreu há pelo menos 5 milhões de anos. Mandíbulas pequenas podem ter liberado espaço para o crescimento do cérebro.

7. Dieta variada

Nossos ancestrais primatas mais antigos comiam principalmente frutas, mas espécies posteriores como o Australopithecus ampliaram seu cardápio.

Há 1,8 - 3,5 milhões de anos  

 
Além de se alimentar com uma variedade maior de plantas, como ervas, comiam mais carne e inclusive a cortavam com ferramentas de pedra.

Mais carne levou ao consumo de mais calorias e menos tempo de mastigação.

8. Pelado, nu com a mão no bolso

Os humanos são quase pelados. Não se sabe a razão, mas isso ocorreu entre 3 e 4 milhões de anos atrás.

 Há 3,3 milhões de anos


Suspeita-se que a perda de pelos tenha ocorrido em resposta à evolução de parasitas como carrapatos.
Exposta ao sol, a pele humana escureceu e a partir de então todos nossos ancestrais foram negros até que alguns humanos modernos deixaram os trópicos.

9. Um gene de inteligência

 
Há 3,2 milhões de anos


 Um gene chamado SRGAP2 foi duplicado três vezes em nossos ancestrais e, como resultado, células cerebrais teriam desenvolvido mais conexões.

10. Cérebros maiores: primatas pensantes

Os humanos pertencem a um grupo ou gênero de animais conhecido como Homo. O fóssil mais antigo de Homo foi escavado na Etiópia e tem 2,8 milhões de anos.

 
Há 2,8 milhões de anos 


A primeira espécie foi possivelmente o Homo habilis, embora cientistas discordem deste argumento. Em comparação com seus ancestrais, esses novos hominídeos tinham cérebros muito maiores.

11. Parto complicado: uma cabeça muito grande

Para os humanos, o parto é mais difícil e perigoso.

 Há pelo menos 200 mil anos 


Diferentemente de outros primatas, as mães quase sempre precisa de ajuda.

Caminhar sobre duas pernas fez com que as fêmeas humanas tenham um canal pélvico mais estreito e passagem de um bebê humano com a cabeça maior de seus ancestrais ficou dificultada.
Para compensar esse "problema logístico", bebês humanos nascem pequenos e indefesos.

12. Controle do fogo 

(Há 1 milhão de anos) 

Ninguém sabe quando os humanos aprenderam a controlar o fogo.

A evidência mais antiga do uso do fogo está na Caverna de Wonderwerk, na África do Sul, que contém cinzas fossilizadas e ossos queimados datando de um milhão de anos.

Mas alguns especialistas afirmam que o fato de homem já ser capaz de processar alimentos há mais tempo do que isso poderia incluir o ato de cozinhar.

13. O dom da fala

Todos os grandes hominídeos têm sacos de ar em seus traços vocais, o que lhes permite emitir fortes gritos.

 
Há 600 mil - 1,6 milhão de anos

  
Mas não os humanos, porque essas bolsas fazem impossível produzir diferentes sons.

Nossos ancestrais aparentemente perderam os sacos de ar antes de se separar em termos evolucionários da espécie Neanderthal, o que sugere que eles também podiam falar.

14. Um gene para a linguagem

Algumas pessoas têm uma mutação em um gene chamado FOXP2.

 
Há meio milhão de anos


Como resultado, custa a elas entender gramática e pronunciar palavras. Isso sugere que o FOXP2 é crucial para aprender o uso da linguagem.

15. Saliva reforçada para comer carboidratos

A saliva humana contém uma enzima chamada amilasa, fabricada pelo gene AMY1, e que digere amidos.

 
Humanos descendentes de agricultores têm mais cópias do gene AMY1


Os humanos modernos cujos ancestrais foram agricultores têm mais cópias do AMY1 que aqueles cujos ancestrais era caçadores, por exemplo.
Este reforço digestivo pode ter ajudado a dar início ao cultivo, aos povoados e às sociedades modernas.

 
FONTE: BBC Brasil

A Fundação da Cidade do Rio de Janeiro



A entrada da Baía de Guanabara devia ser uma verdadeira “Babilônia de águas e ilhas”, como imaginou o historiador Varnhagen sobre a geografia da região no final do século XVI. A frota comandada por Estácio de Sá chegou na guanabara no dia 28 de fevereiro de 1565, e seus navios eram castigados por uma chuva intensa que esteve presente ao longo dos primeiros dias da empreitada. Com a missão de construir um povoado no coração do território tamoio, onde habitavam indígenas inimigos dos portugueses, a localização ideal para a instalação do arraial era uma grande preocupação do capitão Estácio.

Em uma posição estratégica favorável, Estácio de Sá escolheu um istmo da península de S. João, uma faixa de terra à sombra do monte conhecido como Pão de Açúcar para ser o local de fundação do novo povoado. Ali, no dia 1º de março de 1565, Estácio ordenou que se erguesse uma cerca que seria o núcleo inicial da muy leal e heroica cidade de São Sebastião.
“(…) começaram a roçar em terra com grande fervor e cortar madeira para a cêrca”, relata o jesuíta José de Anchieta, que acompanhava a missão. Ainda sob forte chuva, os primeiros colonizadores passaram o primeiro dia cortando madeira e retirando o mato, “ocupando-se cada um em fazer o que lhe era ordenado por ele (Estácio), a saber: cortar madeira, e acarretá-la aos ombros, terra, pedra, e outras coisas necessárias para a cêrca, sem haver nenhum que a isso repugnasse; desde o capitão-mór até o mais pequeno todos andavam e se ocupavam em semelhantes trabalhos”.

A chuva que caía inclemente foi interpretada pelos homens de Estácio como um sinal de ajuda divina, já que não havia água boa perto do cercado. O grande volume de água era o suficiente para abastecer o povoado ao longo das próximas semanas. “(…) e porque naquele lugar não havia mais que uma légua de ruim água, e esta era pouca, o dia que entrámos choveu tanto que se encheu, e rebentaram fontes em algumas partes, de que bebeu todo o exercito em abundância, e durou até que se achou água boa num poço, que logo se fez; (…) e se vão firmando mais na vontade que traziam de levar aquela obra ao cabo, vendo-se tão particularmente favorecidos da Divina Providencia”, relata Anchieta em carta ao Provincial de Portugal.
Preocupado com os futuros ataques dos tamoios, o cercado logo se transformou em um abrigo murado. À essa povoação deu Estácio de Sá o nome de São Sebastião, em homenagem ao santo patrono do Rei de Portugal.

 Evangelho nas Selvas, por Benedito Calixto (1893). Divulgação: Pinacoteca do Estado de São Paulo





Não era nada fácil a vida dos povoadores portugueses no arraial de São Sebastião. A povoação era alvo constante dos ataques de Aimberê e de seus índios tamoios. A missão de Estácio era uma só: sobreviver. Enquanto aguardava reforços de seu tio, Mem de Sá, e da coroa portuguesa, Estácio deveria repelir a todo custo os ataques indígenas e manter a fortificação viva.
Não se passou nem uma semana da fundação da cidade e um grande ataque dos tamoios ao arraial se deu no dia 6 de março de 1565. Aproveitando as frágeis defesas da fortificação, Aimberê estava convicto de que precisava expulsar os portugueses da região o mais rápido possível. “Os Tamoios começaram logo a fazer ciladas por terra e por mar; mas os nossos não curava senão de cercar-se e fortalecer-se, parecendo-lhes que não faziam pouco em defender dentro da cerca”, relatou José de Anchieta. De acordo com o padre Leonardo do Vale, outra testemunha dos ataques, era tão grande o número dos nativos que “parecia a ver cento para cada um dos nossos”. O ataque dos índios foi repelido, sendo essa a primeira vitória militar comandada por Estácio de Sá.

Vitória que mal podia ser comemorada, pois quatro dias depois, Estácio seria testado novamente. No dia 10 de março, uma nau francesa foi avistada na Baía de Guanabara pelos colonizadores apreensivos. Receoso de um futuro ataque, Estácio de Sá resolve tomar a iniciativa e comanda um ataque à embarcação francesa. O que ele não esperava era que estava caindo em uma armadilha. Tão logo rumou contra a nau francesa, os índios tamoios aproveitaram para atacar São Sebastião em 48 canoas, como é relatado também pelo padre Leonardo do Vale. A vitória dos portugueses foi tão significativa, que eles não apenas conseguem derrotar os índios como também capturam a nau francesa.

Os feitos militares do capitão Estácio seriam mais do que suficientes para elevar a moral e o espírito da povoação de São Sebastião. Mas apesar das vitórias, os povoadores passaram dias de extremo sacrifício. Além dos sucessivos ataques dos tamoios – que já era um enorme problema por si só –, o arraial passou a viver sem provisões e com algumas crises de fome ao longo dos primeiros meses. Para piorar a situação, José de Anchieta registra que “o maior inconveniente que ali havia, ultra da fome, é que estão lá muitos homens de todas as capitanias, os quais passa de ano que lá andam, e desejam ir-se para suas casas; se os não deixam ir perdem-se suas fazendas, e se os deixam ir fica a povoação desamparada, e com grande perigo de serem comidos os que lá ficarem…” Estácio contava com muitos homens provenientes de São Vicente em seu grupo; colonizadores que deixaram suas terras para fundar a cidade. O medo de que suas fazendas desprotegidas estariam sendo atacadas era motivo suficiente para alguns pensarem em deserção, sem contar o cansaço físico da longa campanha e a falta de alimentos que abatiam todos eles
A moral dos povoadores caía dia após dia. Lutando também para manter a confiança e o espírito do grupo em alta, Estácio de Sá “nunca descansava nem de noite e de dia”. Estácio precisava de ajuda, sem a qual toda a missão estaria comprometida.

 RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem Pitoresca Através do Brasil


FONTE: Rio 450 anos

segunda-feira, 23 de março de 2015

Arqueólogos descobrem construções nazistas secretas em selva argentina

Os arqueólogos acreditam que ruínas encontradas em uma região remota de uma selva argentina podem ser os restos de um esconderijo construído pelos nazistas onde poderiam se esconder caso perdessem a Segunda Guerra Mundial.

Os pesquisadores estão estudando os restos de três prédios localizados no parque Teyu Cuare, no norte da Argentina, perto do Paraguai.

Pesquisadores da Universidade de Buenos Aires encontraram cinco moedas alemãs cunhadas entre 1938 e 1941 e um fragmento de prato de porcelana com a inscrição Feito na Alemanha. Além disso, havia símbolos nazistas nas estruturas de pedras, agora cobertas por mato e acessíveis somente através de um facão.

Já havia uma lenda local que dizia que o local pertencia ao alemão Martin Bormann, braço direito de Adolf Hitler, que morreu em maio de 1945. Desse modo, as construções podem ter sido erguidas como refúgio para os líderes do Terceiro Reich.

“Aparentemente, no meio da segunda guerra mundial, os nazistas tinham um projeto secreto para construir abrigos para os principais líderes em caso de derrota – sítios inacessíveis no meio de desertos, nas montanhas, em um penhasco ou no meio da selva como esta”, disse o líder da equipe dos arqueólogos Daniel Schavelzon.

No final, porém, o esconderijo nunca foi necessário. Milhares de nazistas e fascistas croatas e italianos chegaram à Argentina com a bênção do presidente Juan Perón, que liderou a nação entre 1946 e 1955 e de novo brevemente na década de 1970.

Vídeo:

 


FONTE: The Guardian
 

domingo, 15 de março de 2015

Cientistas usam DNA para descobrir países de origem de escravos

O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o liNovo método possibilitou determinar, pela primeira vez, a procedência de africanos que vieram para a América no século XVII

Cientistas utilizaram um novo método para analisar traços de DNA encontrados nos ossos de três escravos africanos do século XVII. A metodologia permitiu determinar pela primeira vez os países de origem dos cativos.

Até agora era difícil determinar com exatidão a procedência dos 12 milhões de escravos africanos transportados para a América entre 1500 e 1850. Havia poucos dados precisos na época e, apesar de saber de qual porto haviam embarcado, os verdadeiros países de origem eram um mistério.

 Quadro de Johann Moritz Rugendas representa escravidão na América



Mas neste caso, o DNA extraído dos esqueletos de três escravos permitiu determinar que eram originários de regiões que hoje pertencem a Camarões, Gana e Nigéria, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira, 9, na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences.

Os ossos de dois homens e uma mulher foram desenterrados em 2010 em um local de construção na ilha de San Martín, no Caribe.

"Estas descobertas oferecem as primeiras provas diretas da origem étnica dos escravos africanos", destaca o estudo conduzido por Hannes Schroeder, do centro de geogenética do Museu de História Natural da Universidade de Copenhague.

Também "demonstra que os elementos do genoma permitem responder a perguntas históricas que há tempo careciam de resposta".

Este novo método permitirá avançar na investigação de outros restos arqueológicos descobertos em regiões tropicais, que, por causa do clima quente, contêm pouco DNA.

FONTE: O Estadão
O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,cientistas-usam-dna-para-descobrir-paises-de-origem-de-escravos,1647507
http://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,cientistas-usam-dna-para-descobrir-paises-de-origem-de-escravos,1647507

Cientistas estudam mar de ferramentas pré-históricas na África



Um mar de ferramentas deixas por diferentes espécies do gênero homo ao longo de cerca de um milhão de anos. É assim que pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, descrevem a região de Mesak Settafet, na Líbia, um gigantesco afloramento de arenito no meio do Deserto do Saara, na África. O local foi algo de um estudo que detectou, em média, 75 artefatos por metro quadrado, ou 75 milhões por quilômetro quadrado.
Os responsáveis pelo trabalho, publicado nesta quarta-feira na revista "PLOS One", afirmam que, ao longo dos séculos, a região se transformou no primeiro exemplo de cenário modificado pelos humanos, tal a quantidade de ferramentas e armas deixadas para trás pelos povos que ocuparam o Norte da África.
O Messak Settafet tem 350 quilômetros de comprimento e 60 quilômetros de largura. Segundo o professor Robert Foley, um dos autores do estudo, o arenito (pedra de areia) local foi um material ideal para a criação de ferramentas. Com isso, diz ele, a paisagem se tornou um tapete de ferramentas de pedra durante o chamado Pleistoceno, período que vai de 2,5 milhões de anos até 11 mil anos atrás.
"O termo Antropoceno é usado para definir o período que começa quando os humanos passaram a causar impacto significativo no ambiente, com a Revolução Industrial, há cerca de 200 anos", explica Foley. "Mas a criação de ferramentas teve início há mais de dois milhões de anos, e pouca pesquisa foi feita sobre o impacto dessa atividade. O Messak Settafet é o exemplo mais precoce das cicatrizes da atividade humana num cenário inteiro. O impacto das nossas tecnologias no planeta é mais antigo do que se pensava.

Fonte: http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/cientistas-estudam-mar-de-ferramentas-pre-historicas-na-africa-15562362

sexta-feira, 13 de março de 2015

3 Mil Esqueletos são Desenterrados em Cemitério Histórico em Londres


O terreno de Bedlam foi usado como cemitério desde 1569 até 1738 - e, agora, uma estação de trem deve ser construída no local.
Acredita-se que mais de 20 mil corpos estejam enterrados na área de Bedlam, localizada em Londres. E, agora, arqueólogos passaram a trabalhar na região, desenterrando cerca de 3 mil corpos.

Lá estão enterrados pessoas que não podiam pagar por um enterro religioso, ou que escolheram ser enterrados lá por razões políticas. Além disso, sabe-se que estão lá as vítimas da Guerra Civil Inglesa, da Grande Praga de 1665 e do Grande Incêndio de Londres em 1666.
O nome Bedlam vem do hospital "St. Mary of Bethlehem" (Belém) que funcionava como um hospício.O local foi encontrado na entrada de uma nova estação de trens que será fundada na cidade. Desde então, 60 arqueólogos trabalham seis dias por semana por lá, para que o projeto esteja terminado em setembro.



A escavação é importante cientificamente pois pode revelar muitos detalhes sobre os costumes da época em que o cemitério era ativo. Os esqueletos serão limpos e examinados de perto por especialistas que determinarão suas causas de morte, idade e sexo.
A descoberta acontece no 350º aniversário da Grande Praga de Londres - 1665 foi o ano em que o último surto foi registrado. Houve 400 anos de praga recorrente e, naquele período, ela parou. Agora os pesquisadores querem descobrir porque a peste sumiu.

Fonte: Revista Galileu - Clique Aqui
Mais Informações: CNN - Clique Aqui

quinta-feira, 12 de março de 2015

Embarcação afunda e vai para lista dos naufrágios no Rio de Janeiro

Conheça os naufrágios que aconteceram no litoral do Rio de Janeiro.

 



No litoral do Rio de Janeiro há um total de 351 naufrágios que podem ser visitados por mergulhadores. No portal Naufrágios do Brasil você confere a lista completa com datas e detalhes de cada um desses naufrágios.
De acordo com a Marinha, mais uma embarcação, identificada como “Mercurio Del Golfo”, naufragou a cerca 167km do litoral sul do Rio de Janeiro. Seis dos sete tripulantes foram resgatados por um navio da Petrobras e um ainda permanece desaparecido.

Antes de afundar, a embarcação, que pertencia a empresa Camorim Serviços Marítimos, teria chegado a emborcar, permitindo a entrada de água no convés do navio e em outros compartimentos. A Capitania dos Portos do Rio de Janeiro (CPRJ) informou que será aberto um inquérito para apurar as causas e responsabilidade do naufrágio.

Segue nota da Marinha do Brasil

O Navio-Patrulha Guaporé foi enviado ao local para auxiliar na busca do desaparecido. Procurada, a empresa Camorim Serviços Marítimos não quis se manifestar.
A Marinha do Brasil, por meio da Capitania dos Portos do Rio de Janeiro (CPRJ), informa que por volta das 14h30 desta segunda-feira, 09.03.2015, tomou conhecimento de que o navio “Mercurio Del Golfo”, pertencente à empresa Camorim Serviços Marítimos, adernou a cerca de 90 milhas náuticas da cidade do Rio de Janeiro.

Por volta das 22h, a embarcação afundou em uma profundidade de mil e quinhentos metros. Dos sete tripulantes que estavam a bordo durante o ocorrido, seis foram resgatados por um navio da Petrobras e um está desaparecido. Para auxiliar nas buscas, foi enviado ao local o Navio-Patrulha Guaporé.
Por oportuno, a CPRJ informa que será aberto um Inquérito Administrativo sobre Acidentes e Fatos da Navegação (IAAFN), a fim de esclarecer as causas e responsabilidades pelo ocorrido. O prazo para a conclusão do Inquérito é de 90 dias.

Naufrágios no Rio de Janeiro

Durante a história do Brasil, aconteceram mais de 300 naufrágios no Rio de Janeiro.
A lista e as histórias de cada saga você pode encontrar no portal Naufrágios do Brasil.



Uma das histórias que nos leva a viajar no tempo e na história das navegações pela costa brasileira é a do antigo navio a vapor Buenos Aires. O paquete foi lançado ao mar em outubro de 1829 e era considerado na época um dos navios mais modernos para transporte de cargas e passageiros pela América do Sul e Europa.

Em 1890, o Buenos Aires seguia da Bahia para o Rio de Janeiro quando por um defeito, uma das caldeiras explodiu, fazendo com que a embarcação passasse a navegar um pouco mais devagar.
O capitão, então cansado, decidiu deixar o timão na mão de um experiente imediato. Porém, muitos passageiros vendo uma ilha e um farol se aproximarem decidiram acordar o capitão que, num primeiro momento, não deu ouvidos aos passageiros preocupados.

Foi então que à 00h25 do dia 24 de julho de 1890, o capitão decidiu ir ao convés para ver para onde a proa apontava e percebeu que estavam em rota de colisão com a Ilha Rasa- RJ.
Era 00h30, o farol estava aceso, a noite iluminada por uma lua cheia e o mar calmo, porém, era tarde demais. O capitão ordenou a reversão das máquinas, mas não teve tempo suficiente para livrar seu navio da colisão com a ilha.

Tumulto e pânico tomou conta do navio e passageiros e tripulação começaram a descer ao mar pelas balsas-salva-vidas. Todos foram salvos, inclusive o capitão, e resgatados no interior da Baía de Guanabara pela Marinha do Brasil.
Um inquérito foi aberto para apurar a denúncia de que o naufrágio havia sido propositalmente provocado.

Acompanhe no vídeo abaixo um mergulho pelo naufrágio Buenos Aires.




FONTE: Site Mar Sem Fim

domingo, 8 de março de 2015

DNA recuperado de sítio subaquático britânico pode reescrever a história da agricultura na Europa

 ROLAND BROOKES/THE MARITIME TRUST. Garry Momber da United Kingdom’s Maritime Archaeology Trust explora um sítio subaquático de 8000 anos atrás, onde trigo domesticado foi encontrado.

Por Michael Balter


Caçadores-coletores podem ter trazido produtos agrícolas às Ilhas Britânicas comercializando trigo e outros grãos com os primeiros agricultores do continente europeu. Essa é a conclusão intrigante de um novo estudo de DNA antigo de um acampamento caçador-coletor agora submerso ao largo da costa britânica. Se for verdade, o achado sugere que o trigo fez o seu caminho para a borda mais distante da Europa Ocidental 2000 anos antes de ter-se pensando que a agricultura tenha tomado conta na Grã-Bretanha.
O trabalho confronta arqueólogos “com o desafio de ajustar isso à nossa visão de mundo”, afirma Dorian Fuller, um arqueobotânico da University College London que não estava envolvido no trabalho.
Por décadas, arqueólogos pensaram que os primeiros agricultores do Médio Oriente mudaram para a Europa inicialmente há aproximadamente 10500 anos tendo substituído ou transformado as populações caçadoras-coletoras enquanto moviam-se para o Oeste, não alcançando a Grã-Bretanha até cerca de 6000 anos atrás. Mas essa visão já sofreu algumas alterações. Descobertas recentes, por exemplo, têm mostrado que alguns agricultores iniciais coexistiram com os caçadores-coletores já vivendo na Europa ao invés de rapidamente os terem substituído. Em 2013, pesquisadores relataram que, começando há cerca de 6000 anos atrás, agricultores e caçadores-coletores haviam ambos sepultado os seus mortos na mesma caverna na Alemanha e continuado a fazer isso por 800 anos, sugerindo que os dois grupos estivessem em contato próximo. Mais controversamente, pesquisadores afirmaram que há cerca de 6500 anos atrás caçadores-coletores na Alemanha e Escandinávia podem ter adquirido porcos domesticados por agricultores nas proximidades.
Os novos achados prometem perturbar ainda mais o cenário no qual a agricultura marchou constantemente de leste para oeste. Uma equipe liderada por Robin Allaby, um geneticista de plantas da University of Warwick no Reino Unido, estava procurando pela mais antiga evidência de plantas domesticadas nas Ilhas Britânicas. Os pesquisadores decidiram dar uma olhada em um sítio subaquático chamado Bouldnor Cliff, a 250 metros da costa, do povoado de Bouldnor no canto noroeste da Ilha de Wight. (A ilha está no Canal da Mancha próxima à costa sul da Grã-Bretanha).
Bouldnor Cliff, localizado 11 metros abaixo da superfície da água, foi descoberto em 1999, quando o United Kingdom’s Maritime Archaeology Trust posta em seu website, “uma lagosta foi vista jogando sílex trabalhados da Idade da Pedra, de sua toca”. Arqueólogos têm trabalhado no local desde então. O sítio foi claramente ocupado por caçadores-coletores , que podem ter construído barcos de madeira. A equipe de Allaby recolheu quatro amostras de núcleo de sedimentos a partir de uma seção do sítio com cascas de avelã queimadas aparentemente deixadas pelos caçadores-coletores e submeteram as amostras a ambas as datações por radiocarbono e análise de DNA antigo. As amostras de madeira e plantas foram datadas entre 8020 e 7980 anos antes do presente, após o sítio ter sido inundado pela elevação dos mares que criaram o Canal da Mancha e separaram a Grã-Bretanha da França.
Para a análise de DNA antigo, a equipe usou métodos pioneiros do paleogeneticista Eske Willerslev da University of Copenhagen para recuperar e sequenciar o material genético deixado em sedimentos mesmo após as plantas que o contiveram terem desintegrado. Como poderia se esperar, Allaby e seus colegas encontraram DNA de uma ampla variedade de árvores e plantas conhecidas em terem povoado o sul da Grã-Bretanha 8000 anos atrás, incluindo carvalho, choupo, e faia, juntamente com várias gramíneas e ervas. Mas a equipe também teve uma grande surpresa: entre as amostras de DNA havia dois tipos de trigo domesticado que se originaram no Oriente Médio e que não possuem ancestrais selvagens no norte da Europa. Isso significa que eles devem ter sido associados à original disseminação da agricultura do Oriente Médio, inciando há cerca de 10500 anos atrás, em vez de terem sido localmente domesticados. Ainda assim muitos arqueólogos supõem que por volta de 8000 anos atrás a agricultura não estava mais à oeste do que a região dos Balcãs e da Hungria moderna.
Os pesquisadores realizaram vários testes para eliminar a possibilidade de contaminação pelo trigo moderno, incluindo tentando sequências de DNA das soluções químicas usadas nos experimentos, mas sequências de plantas não foram detectadas. A única conclusão possível é que o trigo domesticado havia realmente vindo do sítio caçador-coletor de Bouldnor Cliff, a equipe relatou na Science.
“O artigo é metodologicamente impressionante”, afirma Fuller. Willerslev concorda: “O estudo é bastante convincente”, ele diz, acrescentando que o DNA presente nos sedimentos proporcionará “uma das mais antigas evidências de agricultura” porque os grãos de cereais em si são menos suscetíveis de serem preservados.
Então como eles domesticaram o trigo para chegar à Grã-Bretanha 2000 anos antes de as pessoas começarem a agricultura lá? A equipe de Allaby não pensa que os caçadores-coletores cultivaram os grãos, porque nenhum pólen de trigo foi encontrado nas amostras – o que era de se esperar caso o cereal tivesse passado pelo seu ciclo de vida completo, incluindo a floração.
A equipe propõe que a agricultura deve ter sido difundida a oeste da França muito antes do que se tem pensado, há 7600 anos atrás, e assim apenas uma lacuna de 400 anos teria de ser explicada. Mas Peter Rowley-Conwy, um arqueólogo da Durham University no Reino Unido, rejeita essa sugestão. “Os autores não fazem justiça à cronologia da expansão da agricultura”, ele se queixa, notando que “milhares de grãos de cereais diretamente datados por radiocarnobo” argumentam contra a agricultura na Europa Ocidental tão cedo. “Um estudo de DNA desse tipo simplesmente não é suficiente para derrubar tudo isso”.
Outra possibilidade, Allaby afirma, é de que os caçadores-coletores do sul da Grã-Bretanha percorriam muito mais para dentro do continente europeu do que previamente imaginado, apanhando trigo ou produtos de trigo dos agricultores ao leste, e trazendo para a Grã-Bretanha. Ele também sugere que na datação convencional para a disseminação da agricultura, baseada claramente em grãos de cereais detectáveis, pode estar faltando amostras mais antigas.
Allaby pode muito bem estar certo, afirma Greger Larson, um biólogo evolucionista da University of Oxford no Reino Unido. “Será que estamos subestimando o grau em que existiam redes de intercâmbio entre agricultores e caçadores-coletores as quais se estenderam muito mais longe no tempo e espaço? Talvez a única maneira de buscá-las seja através de assinaturas de DNA”.
No entanto, Fuller diz que os novos achados não necessariamente indicam que a disseminação da agricultura deva ser radicalmente revisada. Ao invés, ele sugere, os pioneiros de pequena escala, ambos agricultores e caçadores-coletores podem ter estado “operando além da fronteira da agricultura”, enquanto esta se disseminava a oeste em uma onda de avanço. O trigo pode ter sido parte de troca ou intercâmbios culturais entre eles. Assim como especiarias raras do leste são consideradas como mercadorias valiosas hoje, diz Fuller, o trigo de Bouldnor Cliff pode ter sido simbolicamente carregado e visto como “raro, exótico e valioso”, mais do que alguma coisa a ser comida diariamente.

Fonte/traduzido de: Science AAAS