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sábado, 10 de janeiro de 2015

Escavações para o VLT na Avenida Rio Branco revelam fragmentos do Brasil Colônia


Os últimos dias de 2014 e os primeiros de 2015, quando o Rio completa os seus 450 anos, trouxeram um presente para a cidade, escondido pouco abaixo de onde diariamente passam milhares de cariocas. Recentes escavações para as obras de implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) na Avenida Rio Branco estão revelando fragmentos que podem ser pisos de construções coloniais do século XIX. Os trechos que estão mais bem preservados, como um que surgiu próximo à Cinelândia, serão retirados pela concessionária responsável pelo projeto, que está realizando o trabalho com o apoio de uma empresa especializada em arqueologia(incluindo três de nossos alunos: Gabriel Coutinho, Graziella Costa e Victoria Araújo), sob a supervisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A intenção é que as peças sejam reunidas e expostas futuramente ao público.
— Até agora, já encontramos pelo menos 20 fragmentos que podem ser pisos de construções do século XIX na região, como comércios, residências e cortiços. Por mais que esteja deteriorado, todo esse material está sendo escaneado a laser para que possa ser reconstituído digitalmente, gerando, por exemplo, maquetes em três dimensões. Os mais preservados serão cirurgicamente retirados para um futuro projeto de divulgação — explica a coordenadora-geral do Programa Arqueológico VLT do Rio, Erika Gonzalez.

Erika acrescentou que já era esperado que fossem encontrados esses fragmentos, mas o estado de conservação era uma incógnita. Uma equipe de historiadores está trabalhando com toda a cartografia que existe da época, e o objetivo é descobrir exatamente a que construções pertenciam as pedras encontradas. O material ficou escondido após a abertura daquela que, ainda hoje, é uma das vias mais importantes da cidade, a Avenida Rio Branco, antiga Avenida Central. A via foi o principal marco da reforma urbana realizada pelo prefeito Pereira Passos no início do século XX, há 110 anos.
— Muitos trechos estão mais degradados porque eles acabaram servindo de suporte para a colocação de redes de água, esgoto, entre outras que foram feitas após a criação da Rio Branco. Nosso trabalho tem duas etapas básicas: o registro de tudo o que é encontrado e a retirada do material mais preservado. Queremos poder recontar, de forma palpável ao público, toda essa história que estava escondida debaixo de onde está sendo realizada a obra — conclui Erika.

Apesar de recente, a descoberta já causa repercussão. Para o arquiteto e urbanista Augusto Ivan Pinheiro, o achado pode traçar um mapa mais confiável das ruas do Centro da cidade. Ele também acredita que trata-se de uma pavimentação provavelmente do final do XVIII e início do XIX, ainda do período colonial.
— Pode ser ainda mais antiga, pois ali tinha a descida do Morro do Castelo, um dos pontos de fundação da cidade, e que ligava vários caminhos como, por exemplo, o da Ladeira da Ajuda, que hoje segue para a Zona Sul — ressalta o especialista, acrescentando que essa área é bastante antiga.
Na Cinelândia, segundo ele, existia o Convento da Ajuda, também do século XVIII.
— Foi dali que partiram os caminhos em direção às vias que atualmente seguem para o Catete. Outro caminho importante, que se comunicava com esse trecho, era o de Matacavalos. Trata-se, hoje, da Rua do Riachuelo, assim como o Largo da Mãe do Bispo, que também era naqueles arredores. É uma descoberta muito interessante — diz ele.

Erika acredita que, por não terem o formato tão arrendondado, as pedras não sejam um tipo de calçamento pé de moleque, mas somente estudos complementares vão poder dar essa certeza. Ao ver uma foto, porém, o pesquisador João Baptista Ferreira de Mello deu uma opinião diferente e disse acreditar ser sim do tipo pé de moleque, usado para revestir as vias públicas no período do Brasil Colônia.
— Reparem o tamanho irregular das pedras, pequenas, médias e grandes. As pedras eram fixadas no chão dos nossos caminhos por dois escravos e uma mula — conta.


João Baptista recorda que a implantação da Avenida Rio Branco passou por cima de dezenas de sobrados e construções, além de soterrar becos, ruelas e travessas do período colonial.
— A abertura da Avenida Rio Branco, com seus 33 metros de largura, soterrou este pedaço do passado da cidade. Ali, existiram becos, ruelas e travessas com piso pé de moleque, típico do período colonial. Este tipo de piso ainda pode ser visto na Ladeira da Misericórdia e na subida do Jardim do Valongo — afirma o pesquisador, professor de geografia da Uerj e coordenador dos Roteiros Geográficos do Rio, que promove passeios históricos pelas ruas da cidade.

FONTE:
O Globo, disponível em: http://oglobo.globo.com/rio/escavacoes-para-vlt-na-avenida-rio-branco-revelam-fragmentos-do-brasil-colonia-14983814

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Divulgamos a Banca Examinadora (confirmada) para o Concurso para Professor Adjunto de Arqueologia Brasileira - UERJ:

TITULARES:
. Prof. Dr. Paulo Seda - DARQ/UERJ (Presidente)
. Profa. Dra. Márcia Bezerra de Almeida - UFPA
. Profa. Dra. Sibeli Viana - PUCGO

SUPLENTES:
. Profa. Dra. Nanci Vieira - DARQ/UERJ
. Profa. Dra. Mercedes Okumura - MN/UFRJ
. Prof. Dr. Emiliano de Oliveira - FGEO/UERJ

COMISSÃO ORGANIZADORA

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Mineradora danifica pinturas rupestres em Morro do Chapéu

Mineradora danifica pinturas rupestres em Morro do Chapéu; ‘irreparável’, opina especialista 
Responsáveis por deixar marcas da história e do cotidiano dos povos que habitavam a terra há milhões de anos, os sítios arqueológicos são importantes fontes de estudo. Um destes locais, na cidade de Morro do Chapéu, no centro-norte da Bahia, foi danificado por uma empresa mineradora que atua na região, segundo moradores. Na tentativa de prospectar minerais, a Serra do Sono – responsável pela obra -, partiu uma rocha de arenito e prejudicou pinturas rupestres que, segundo especialistas, não podem ser datadas, mas estão lá há, pelo menos, três mil anos. Professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e pós-doutor em arqueologia pela Universidade de Coimbra, em Portugal, Carlos Etchevarne disse que a degradação de sítios arqueológicos da Bahia, “infelizmente”, não é novidade. “Tem acontecido em outros municípios esse tipo de depredação. Já soube de Ourolândia, Oliveira dos Brejinhos...”, enumerou. Segundo ele, Morro do Chapéu tem uma “quantidade extraordinária” de fósseis, mas, por conta do descuido do poder público, é uma área de risco. “Qualquer eliminação significa uma grande perda. É como rasgar um documento escrito de 200, 300 anos. Não tem como recuperar a história que se perde”, afirmou.

Em uma breve análise que o especialista fez das imagens, o professor viu uma figura de um homem caçando uma ave – muito provavelmente uma ema – o que indica que os grupos que fizeram as pinturas eram caçadores coletores – que existiam antes da sedentarização do homem. Arqueóloga formada pela Universidade Federal de Sergipe, Fernanda Libório disse que a cidade de Morro de Chapéu tem mais de 40 sítios e que a legislação brasileira prevê multas (ainda em cruzeiro) para quem danificar o patrimônio. “A gente lida com um patrimônio que não é renovável, uma vez que está destruído, é uma perda da humanidade. É o simbólico de um povo que não volta mais. Existia ali uma riqueza muito grande de informação”, lamentou. Presidente do Comitê da Bacia do Salitre, Almacks Luiz Silva, disse que entrou em contato com a prefeitura da cidade e foi informado de que a administração “não tinha como fiscalizar tudo”.  Após o estrago, uma representação será protocolada no Ministério Público Estadual para que se apure a responsabilidade. Além disso, Fernanda Libório encaminhou denúncia formal ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Procurada pelo Bahia Notícias, a prefeitura de Morro do Chapéu não respondeu aos telefonemas. O Iphan, por e-mail, afirmou que responderia aos questionamentos da reportagem nesta terça-feira (6).

FONTE:
Bahia Noticias, disponível em http://www.bahianoticias.com.br/municipios/noticia/422-mineradora-danifica-pinturas-rupestres-em-morro-do-chapeu-irreparavel-opina-especialista.html

domingo, 4 de janeiro de 2015

Great Blue Hole em Belize dá novas pistas sobre o declínio da civilização maia

Um sumidouro submarino enorme cercado por recifes, cavernas e tubarões forneceu aos arqueólogos pistas no mistério do declínio da civilização maia, de acordo com uma nova pesquisa.

Cientistas da Rice University e Louisiana State University encontraram evidências em Great Blue Hole de Belize, uma caverna 400 pés de profundidade em um recife de barreira, que apoiam a teoria de que a seca e as condições climáticas levaram os Maias a partir de uma potência regional a um punhado de sobreviventes rivais e, finalmente, uma civilização praticamente perdida.

Os pesquisadores perfuraram em ambos o sumidouro antigo e uma lagoa próxima para obter amostras de rochas e sedimentos da era do declínio maia, entre 800 e 1000 AC. Nestas amostras testaram a proporção de alumínio e titânio - um sinal de chuvas intensas a partir de ciclones tropicais batendo o elemento fora da rocha e no mar. O estudo, publicado na revista Scientific Reports, encontraram relativamente pouco de titânio, o que significa que houve menos ciclones tropicais e secas mais longas do que o normal durante esses dois séculos.

Evidências de secas como fator do longo declínio da civilização Maia vem crescendo há anos, incluindo evidências de estalagmite encontrados em 2012, mas o Great Blue Hole está mais alinhado com o caminho de sistemas de tempestades que passam sobre a antiga capital maia de Tikal. A península de Yucatán carece de recursos hídricos naturais, de modo que os maias dependiam das chuvas que se acumulavam em sumidouros calcários - buracos naturais chamados cenotes (às vezes também utilizado para rituais religiosos) e cisternas artificiais chamados chultunes. Vários períodos prolongados de seca, como aqueles que as evidências sugerem, poderiam ter rapidamente drenado os depósitos de água potável dos Maias.

A fome, a agitação e guerra são consequências naturais de uma crise de água - os maias cultivavam em solo difícil e viviam em uma turbulenta e violenta cultura. Por volta de 900 AC quaisquer cidades maias tinham sido abandonados; um segundo período de seca pode ter pesado na balança para outras cidades, como a doença se espalhando pela água suja, o clima seco matou as colheitas e grupos rivais lutaram e fugiram em busca de recursos.

Os cientistas têm sido desafiados durante décadas com a pergunta de por que os maias abandonaram as suas cidades e, aparentemente, abandonaram uma civilização que lhes deu uma escrita, arte elaborada e arquitetura, esporte, agricultura, comércio e um conceito de três camadas de tempo. Os cientistas sugeriram guerra, clima, doenças e política como possíveis causas. Os defensores da hipótese seca às vezes argumentam que ela pode assimilar muitos fatores em uma teoria maior de colapso sistêmico.

Mayan ruins

Ruínas maias em Tulum em Quintana Roo, península de Yucatan, México. Fotografia: Dallas e John Heaton / Alamy

A principal cidade de Chichen Itza, ao longo da costa da península, prosperou durante cerca de um século depois de 1000AD, quase certamente acolhendo os maias que chegaram a partir do sul árido para construir uma interação revista da cultura maia, no norte. Em seguida, a pesquisa mostra em Blue Hole, um segundo período de secas drenando a península, coincidindo com o tempo estimado que Chichen Itza também diminuiu rapidamente. Maias entretanto continuaram a viver lá, embora em menor número, sobrevivendo a queda de sua civilização, a chegada dos conquistadores espanhóis e as mudanças dos séculos, até os dias atuais.

A mudança climática e a seca têm sido citados como prováveis causas do declínio de outras civilizações. O arqueólogo de Yale, Harvey Weiss e o climatologista da University of Massachusetts Raymond Bradley argumentam que as secas enormes mudaram a história do Oriente Médio, devastando o império acadiano e Reino Antigo do Egito por volta de 2200 aC; algum tempo depois de 500 dC secas e inundações atingiram os Moche do norte do Peru; e que quase mil anos mais tarde trouxe problemas semelhantes que levaram os Anazasi a abandonar suas cidades na América do Norte ao sul-oeste.

FONTE:
The Guardian, disponível em http://www.theguardian.com/world/2015/jan/03/great-blue-hole-belize-clues-fall-mayan-civilisation?CMP=fb_gu
Tradução: Guilherme Novo