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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A maravilhosa aparência em vida do Rinoceronte Lanoso





Um dos mamíferos pleistocênicos retratados sem dúvida em livros populares e enciclopédias de pré-história é o Rinoceronte Lanoso Coelodonta antiquitantis (o nome da espécie é escrito antiquus  em muitas publicações). Originalmente nomeado em 1807 (mas já era conhecido anteriormente), este, adaptado ao frio, peludo rinocerontideo percorreu desde as costas da Europa, o leste da Beringia, o sul do Caucasus e o sudeste da China. Por que ele nunca chegou ao norte da América ninguém sabe.


Rinoceronte lanoso no pleistoceno da Espanha, por Mauricio Antón. O chifre mostrado apresenta uma precisão anatômica?


Assim como inúmeros megamamiferos da Era do gelo, o rinoceronte lanoso não foi necessariamente um habitante de locais frios e congelantes, com nevascas e neve espessa ou em habitats dominados por tundras. Espécies espanholas vieram de ambientes secos e temperados dominados por gramíneas e árvores latifoliadas.
Fosseis de outro Coelodonta mostra que esse grupo se originou nas regiões tibetanas durante o plioceno, sua evolução pode ter sido ocasionada pela elevação do planalto de Qinghai – Tibet (Deng 2002, Deng et  al. 2011). C. thibetana originário do Tibet é o mais velho membro do grupo. Anteriormente a espécie mais antiga de Coelodonta era uma animal comumente chamado de C. nihowanensis. Argumenta-se que esse nome não seria apropriado como um nomen nundum ( um nome sem um tipo de espécie).
Um rinoceronte do médio pleistoceno, C. tologoijensis, conhecido em Transbaikalia, Mongolia e provavelmente sudoete da Siberia. Essas velhas espécies são menores que C. antiquitatis e possuem membros mais delgados (Kahlke & Lacombat 2008).

Esqueleto do rinoceronte lanoso. Mesmo sem tecidos moles, nós podemos saber que se trata de um rinoceronte pastando com a corcunda no ombro. A região nasal é particularmente estranha. Imagem de Franco Atirado, licenciada por Creative Commons Attribution- share alike 3.0 Unported license.


Fragmentos de plantas presos nos dentes do rinoceronte lanoso (mais comumente, dentro do infundíbulo – o recesso presente entre os molares) mostra que eles eram herbívoros, 96% ou mais da dieta deles era baseada no consumo de gramíneas, com musgos e flores herbáceas (Guthrie 1990). Contudo resíduos estomacais preservados  mostram que o rinoceronte lanoso também se alimentava de salgueiro anões e bétulas.
A forma com que o crânio e os dentes desse rinoceronte lanoso está de acordo com um modo de vida herbívora: a boca e os lábios são amplos, e a cabeça inclinada para baixo, mesmo quando o animal está na posição relaxada.
O crânio é particular por ter tanto um extenso septo nasal ossificado e a região da pré maxila virada para baixo em contato com a borda da maxila superior. Como consequência, tem encerramento ósseo das narinas revertido, uma característica de mamíferos ancestrais, mas não comum nos mamíferos em si.


Crânio de rinoceronte lanoso, fotografada no Museu Humboldt, Berlin, por Markus Bühler. Note o septo ossificado e pré maxila virada para baixo na ponta da região nasal.


A região do focinho também é incomum e os incisos são totalmente ausentes em ambas maxilas.
Isso é presumivelmente uma extrema especialização para uma vida de pastoreio e levante a questão se o Coelodonta teve almofadas queratinosas ou alguma outra estrutura similar nessas partes da maxila.
Como o Coelodonta aparece nas populares representações? Artistas tem usualmente mostrado que se parece com um moderno branco e preto rinoceronte vestido com um casaco marrom peludo. Eu nunca fiquei satisfeito com esses tipos de reconstruções desde que eles ignoram as varias nuances da anatomia do rinoceronte lanoso, algumas têm sido obvias desde 1870.


Um dos famosos rinocerontes lanosos, em exposição no Museu de Historia Natural de Londres. Foto de Darren Naish.


Como uma criança de 10 anos ou mais, eu me recordo de uma das mais memoráveis espécies do Museu de história natural de Londres que foi sua coleção de múmias polacas de Starunia preservadas em um escoo petroquímico e descobertas em 1929 (Nowak et al. 1930). A coleção em Londres, usada para ser parte de uma exposição de mamíferos fosseis, tão perto que você pode toca-la. A coleção permanece em exposição no MHN hoje, mas isso se encontra aninhado perto da entrado do museu. Você não pode se aproximar e eu duvido que qualquer um que não seja um paleozoologo “hard core” ou um nerd saberá o que é.


O QUE OS ANTIGOS RETRATAVAM?


Representação de um rinoceronte lanoso na caverna de Chauvet. Note a enorme corcunda e o longo, curvado chifre anterior. Imagem de domínio publico.


Rinocerontes lanosos não são retratados com tanta frequência em pinturas paleolíticas. Elas são massivamente ilustradas por mamutes, bisons e cavalos (Guthrie 2005). De fato, até recentemente, só 20 imagens de rinocerontes lanosos são conhecidas (um numero menor de representações portáteis de Coelodonta também conhecidas) ( Bahn & Vertut 1997).
Contudo esse numero é bem mais que o dobro depois da magnifica descoberta da gruta de Chauvet na França, onde tem mais ou menos 60 imagens de rinocerontes.
A arte pré-histórica frequentemente mostra a cabeça do rinoceronte inclinada para baixo como sugerido pela anatomia. A maior parte das representações mostram que o rinoceronte tinha dois chifres: o posterior ( ou frontal) é as vezes mostrado como pequeno, ou muito mais pequeno que o anterior (ou nasal) mas as vezes os dois tem o mesmo tamanho, e as vezes (como na caverna de Les Combarelles, Dordogne) o chifre posterior se mostra levemente mais longo que o anterior. Como discutido acima, chifre preservados mostram que os rinocerontes tiveram proporções variáveis de chifres. É claro, a possibilidade existe de que algumas pinturas rupestres sejam inexatas- nós sabemos que os antigos artistas foram frequentemente brilhantes e fielmente precisos ilustradores dos animais que eles viam, mas eles foram praticamente fazendo as coisas de memória e cometendo enganos.


Representação de um rinoceronte lanoso em Rouffignac. Olhe para a corcunda!  O tamanho curto dos membros também é obvio.


Todas as imagens do rinoceronte lanoso consistem em mostrar uma profunda e enorme corcunda no ombro que se extende para frente e para atrás da cabeça. A corcova é tão grande que quando o animal é retratado pastando, a borda anterior da corcova as vezes é mostrada pendendo praticamente por  toda a face. O comprimento do membro e o quanto o corpo está próximo ao chão varia. Algumas ilustrações mostram os membros como sendo proporcionalmente pequenos, a barriga estando quase em contato com o chão, e uma longa franja de pelos desgrenhados ao longo da superfície ventral da barriga. A maioria, contudo, não mostra isso, e em vez disso, a barriga está mais para cima e sem franjas.
Talvez o “casaco” seja variável conforme as estações.
Sobre as cores? Chegaremos nisso num minuto.


MAIS SOBRE CHIFRES: Pequeno e robusto vs. Longo e achatado.


Como já notado, nós sabemos um pouco sobre a morfologia de chifres desse animal, ambas as pinturas rupestres e alguns maravilhosos espécimes de clima frio vindos da Sibéria mostram que o Coelodonta tinha chifres gêmeos, com um gigante, gentilmente curvado chifre nasal e um frequentemente pequeno ou mais delgado. (Fortelus 1983 Shidlovskiy et al. 2011)
Somente dois espécimes possuem ambos os chifre em posição, mas um grande numero de chifres isolados é conhecido. Somente sete ou mais ou menos isso foram relatados antes de 1990, mas nós sabemos de mais de 40 chifres que variam em formato e tamanho.
Os chifre eram pensados originalmente como sendo pinças separadas de pássaros gigantes, em particular os míticos super pássaros siberianos que lutavam com monstros marinhos e peixes gigantes (Fortelus 1983).


Chifre anteriores  ou nasais, ilustrado por Guthrie (1990). Note a forte curvatura. Claras faixas e as facetas achatadas. A imagem mostra o quão achatados os chifres são dos lados.


O chifre posterior é frequentemente pequeno, atarracado e sub circular em sua seção transversal, com uma forte ponta. O chifre anterior é normalmente muito mais longo (4x mais longo), mas isso não é uma estrutura subconical, arredondado na secção transversal como o chifre anterior dos rinocerontes vivos. Mas, é lateralmente comprido, lenticular na secção transversal e com um formato triangular na borda anterior. Esse corte transversal foi aparentemente produzido com as facetas de desgaste que se formaram ao longo dos lados da borda principal (Fortelius 1983)
O chifre é de fato tão achatado de lado a lado que tem sido descrito as vezes como prancha: durante os anos de 1760, naturalista e explorador Peter Simon Pallas propôs que a forma achatada era artificialmente causada pelo homem cortando material dos lados, mas isso está incorreto. A errônea ideia de que a forma achatada era resultado de distorções pós mortem tem sido também debatida. Alguns autores tem sugerido também que o chifre anterior deve ter sido muito frágil para ser usado em brigas (embora intuitivamente razoável, a intuição oferece erros nesse aspecto), e a inevitável ideia que era usada para raspar a neve de lado tem sido bastante popular.


Pares de chifres conhecidos de vários rinocerontes lanosos de Shidlovskiy et al. (2011). O chifre anterior/ nasal, claramente longo e mais curvado que o chifre posterior/ frontal. As setas indicam desgastes presentes ao longo das margens. Barra de escala = 10 cm.


Regularmente espaçadas, fitas escuras ao longo do chifre (espaçadamente próximas na base, mas separadas nas pontas) são presumidamente visíveis em vida. Isso tem sido pensado como faixas de crescimento, que nesse caso mostram o que o rinoceronte lanoso viveu ao longo de 30 anos, em tempo de vida similar as dos rinocerontes modernos. Contudo, Shidlovskiy et al. (2011) notou que as faixas escuras desse tipo podem estar relacionadas com a taxa de deposição de melanina e pode não ser anual.
Os chifre anteriores tem sido encontrados variando em proporção e detalhe. Alguns são longos e mais delgados que outros, e tem uma ponta sem corte. Isso tem inferido com base em comparações com rinocerontes vivos que são mais finos em femeas (Guthrie 1990). Contudo Fortelius (1983) pensou que era mais provável que o rinoceronte lanoso reproduzisse estratégias de reprodução que tem se baseado em torno de um curto, intenso período de cio e isso pode ter levado a evolução de um corpo e chifres grandes em machos. Os chifres dos modernos rinocerontes são usados em intra específicos combates e brigas com predadores, mas também no forrageamento e especialmente em quebrar ramos. De fato, isso tem sido sugerido porque a elaboração do chifre na evolução dos rinocerontes os levou ao uso nos forrageamentos, uma intrigante hipótese que precisa de mais estudo.


PADRÕES DE PIGMENTAÇÃO


O que nós sabemos sobre pigmentação em rinocerontes lanosos?

Graças as pinturas rupestres nós temos uma excelente, detalhada e aparentemente bem acurada informação sobre a aparência em vida de alguns animais pleistocênicos. As vezes, essas informações confirmam o que nós suspeitávamos, mas em outras ocasiões,  a arte antiga nos surpreende. Representação pre históricas do cervo gigante Megaloceros e algumas renas antigas, cavalos e leopardos, por exemplo, mostram que esses animais não se parecem com a maioria das reconstruções.
Representações do Coelodonta nas pinturas rupestres europeias mostram com uma  escura grossa faixa próximo ao preta no meio do corpo do animal. A faixa é representada com cuidado “ as vezes gravada nas bordas e cheia no preenchimento” (Bahn & vertut 1997, p. 153)
A largura dessa faixa é variável. Em algumas imagens são estreitas e parecidas com cintos e restrita a parte central do corpo ou a região anterior da pélvis. Em outras é enorme, se estendendo por  por todo o corpo dos quadris aos ombros.
Explanações sugerem que essa faixa inclui o que pode representar dobras verticais na pele e uma interpretação, em tom de gozação, que poder ser uma sela também foi feita.


Pobre imagem de parte do friso de Chauvet que mostra vários rinocerontes: note que todos tem a faixa transversal escura.


 Enquanto a ideia de que a faixa seja simbólica possa ser plausível, parece razoável concluir que isso era uma característica genuinamente anatômica: isto é, que esses rinocerontes tinham uma faixa de pigmentação muito escura, quase negra envolvendo o meio dos seus corpos. O fato que as faixas são apenas presentes nas pinturas do oeste da Europa pode (Guthrie 2005) sugerir, mostrando que era uma única população (subespécies) de rinocerontes lanosos presentes.


Outro rinoceronte lanoso com o cinto escuro na gruta de chauvet.


Subespécies do C. antiquitatis tem por acaso, o que vem sendo chamado de: um espécime do médio pleistoceno vindo da França que foi considerada como o tipo de um novo táxon C.a. praecursor. Como o asiático C. tologoijensis e outros mais arcaicos Coelodonta que tem proporcionalmente um crânio maior, orbitas localizadas mais anteriormente e arcos zigomáticos mais curvados do que o clássico rinoceronte lanoso do pleistoceno inferior. Contudo, Kahkle & Lacombat (2008) removeram C. a. praecursor do c. antiquitatis e o colocaram junto ao C. togoijensis.
As faixas transversais escuras tem um precedente no mundo vivo, mas elas são raras e não posso pensar em nenhum exemplo que se pareça com a reconstrução do Coelodonta. Por essa razão, um pouco de ceticismo é bom. Guthrie (2005) aponta para animais vivos que tenham esses tipos de estruturas (incluindo bois e porquinhos da índia) mas muitos são domesticados e portanto não submetidos as pressões da seleção natural.
Ele também apontou o gigante panda Ailuropa melanoleuca e Tanuki Nyctereutes procyonoides como exemplos: entretanto, em ambos os casos as faixas eram incompletas ou restritas aos ombros, não no meio do corpo.


O QUE MAIS SABEMOS?


O que mais sabemos sobre a visa e a aparência de um rinoceronte? O couro do rinoceronte lanoso era longo, consistindo em mechas finas e grossas de pelo escuro. A pele (preservada no caso das carcaças de Starunia) é coberta com pequenas e abundantes protuberâncias (Nowak et al. 1930).
Os folículos variam de tamanho de acordo com fios que são suportados, como os das costas e pescoço que são mais largos: um fato consistente com a presença de uma juba. Três ou quatro saliências formadas na pele e gordo- nem tudo corresponde com a espinha neural subjacente – são presentes no meio do pescoço e ombros, como são em rinocerontes vivos.


Ilustração de Guthrie (1990) mostrando a cabeça (com os chifres em posição) de um rinoceronte lanoso preservado no Museu Zoologico de Leningrad; note, novamente, a grande diferença na forma e tamanho dos chifres  e também a forma preservada dos lábios (como os rinocerontes de Starunia).


Os lábios são largos, vagamente retangulares (com cantos anterolaterais arredondados) assim, novamente, algo parecido com rinocerontes viventes. O lábio superior parece se estender sobre o inferior em alguns espécimes parece ter alta mobilidade, embora tenha alguma contenção como tão longe o lábio superior se estende anteriormente. Alguns autores tem argumentado que a sobreposição do inferior nem sempre é proeminente, talvez remeta ao Moose Alces alces (tem um artigo de 1924, creio eu, de Hilzheimer, mas não encontrei a citação). Outros têm contestado isso, afirmando que ao invés disso que os lábios simplesmente são bem juntos (Nowak et al. 1930).
Espécimes mumificadas revelam que a cauda é proporcionalmente curta como é previsto em mamíferos adaptados ao frio. A cauda é também achatada, nua na parte ventral, na distal só a metade, e longos pelos nas pontas e nas bordas. As orelhas são mais estreitas que a dos rinocerontes vivos – tem sido descritas como forma lanceolada. A ideia mencionada acima de que rinocerontes lanosos não poderiam brigar com seus chifres é refutada pelas pinturas nas cavernas que claramente mostram animais brigando. Chernova & Kirillova (2010) olharam para os chifres interno micro anatomicamente e concluíram que os chifres eram resistentes para serem fraturados. A incomum ossificação nasal pode ser explicada pelo vigoroso uso do chifre anterior em combate ( Shidlovskiy et al. 2011).


Rinocerontes lanosos brigando representados em Chauvet. Ambos os rinocerontes tem a faixa transversal discutida no texto (penso que elas não sejam obvias). Imagem de Chernova & Kirillova (2010).


Guthrie (2005) notou que algumas imagens de rinocerontes nas cavernas mostram espinhos e flechas embutidas no corpo (um punhado de). Isso pode indicar que os rinocerontes eram raramente caçados. Com numerosos cavalos, cervos e bisões ao redor, nós podemos dizer que aquelas pessoas raramente caçavam esses gigantes, formidáveis casca grossa. Um rinoceronte em Chauvet parece mostrar sangue jorrando de sua boca e nariz enquanto um em Colomière pare ter varias flechas projetadas na barriga. Alguns outros exemplos franceses parecem ter espetos fincados ao lado do corpo (Guthrie 2005).
No geral, nós claramente sabemos muitos detalhes sobre o surgimento desse animal e artistas que escolheram representa-los incorporando esses inúmeros detalhes. Muitas vezes, ele não tem: você pode ver um chifre inexato e lábios reconstruídos de inúmeras maneiras, muitas não incorporando detalhes da pigmentação, a faixa escura em especifico. E eu fico frustrado com paleontólogos que são pagos para dar consultoria a artistas paleontológicos mas não sabem ou melhor – não se importam sobre pensar corretamente.
Aqui está um rinoceronte lanoso, um compilado com a combinação de tudo que sabemos…



Eu realmente deveria escrever sobre a aparência de outro mamífero pleistocênico em algum momento. E um dia irei!

Fonte: Scientific American

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

As cidades perdidas da Amazônia - A floresta tropical amazônica não é tão selvagem quanto parece

Michael J. Heckenberger
LUIGI MARINI
Kuhikugu, conhecida pelos arqueólogos como sítio X11, é a maior cidade pré-colombiana já descoberta na região do Xingu na Amazônia. Abrigava mil pessoas ou mais e servia como o eixo central de uma rede de aldeias menores.
Quando o Brasil criou o Parque Indígena do Xingu em 1961, a reserva estava longe da civilização moderna, aninhada bem no limite ao sul da enorme floresta amazônica. Em 1992, na primeira vez em que fui morar com os cuicuro, uma das principais tribos indígenas da reserva, as fronteiras do parque ainda ficavam dentro da mata densa, pouco mais que linhas sobre um mapa. Hoje o parque está cercado de retalhos de terras cultivadas, com as fronteiras frequentemente delimitadas por um muro de árvores. Para muitos forasteiros, essa barreira de torres verdes é um portal como os enormes portões do Parque Jurássico, separando o presente: o dinâmico mundo moderno de áreas cultivadas com soja, sistemas de irrigação e enormes caminhões de carga; do passado: um mundo atemporal da Natureza e de sociedade primordiais.

Muito antes de se tornar o palco central na crise mundial do meio ambiente como a gigantesca joia verde da ecologia global, a Amazônia mantinha um lugar especial no imaginário ocidental. A mera menção de seu nome evoca imagens de selva repleta de vegetação respingando água, de vida silvestre misteriosa, colorida e com frequência perigosa, de um entremeado de rios com infinitos meandros e de tribos da Idade da Pedra. Para os ocidentais, os povos da Amazônia são sociedades extremamente simples, pequenas tribos que mal sobrevivem com o que a Natureza lhes oferece. Têm conhecimento complexo sobre o mundo natural, mas lhes faltam os atributos da civilização: o governo centralizado, os agrupamentos urbanos e a produção econômica além da subsistência. Em 1690, John Locke proclamou as famosas palavras: “No início todo o mundo era a América”. Mais de três séculos depois, a Amazônia ainda arrebata o imaginário popular como a Natureza em sua forma mais pura, e como lar de povos aborígines que, nas palavras de Sean Woods, editor da revista Rolling Stone, em outubro de 2007, preservam “um estilo de vida inalterado desde o primórdio dos tempos”.

A aparência pode ser enganosa. Escondidos sob as copas das árvores da floresta estão os resquícios de uma complexa sociedade pré-colombiana. Trabalhando com os cuicuro, escavei uma rede de cidades, aldeias e estradas ancestrais que já sustentou uma população talvez 20 vezes maior em tamanho que a atual. Áreas enormes de floresta cobriam os povoados antigos, seus jardins, campos cultivados e pomares que caíram em desuso quando as epidemias trazidas pelos exploradores e colonizadores europeus dizimaram as populações nativas. A rica biodiversidade da região refl ete a intervenção humana do passado. Ao desenvolverem uma variedade de técnicas de uso da terra, de enriquecimento do solo e de longos ciclos de rotatividade de culturas, os ancestrais dos cuicuro proliferaram na Amazônia, apesar de seu solo natural infértil. Suas conquistas poderiam atestar esforços para reconciliar as metas ambientais e de desenvolvimento dessa região e de outras partes da Amazônia.


“Povo da Natureza”
A pessoa mais famosa a buscar civilizações perdidas no sul da Amazônia foi Percy Harrison Fawcett O aventureiro britânico esquadrinhou o que denominou “selvas não mapeadas”, buscando uma cidade antiga – a Atlântida – na Amazônia, repleta de pirâmides de pedra, ruas de seixos e escrita alfabética. Suas narrativas inspiraram Conan Doyle em O mundo perdido e talvez os filmes de Indiana Jones. O recente e empolgante livro de David Grann, The lost city of Z (Z, a cidade perdida), refez o trajeto de Fawcett antes de seu desaparecimento no Xingu, em 1925.

Na verdade, cinco expedições alemãs já visitaram os xinguanos e suas terras. Em 1894, o livro de Karl von den Steinen, Unter den Naturvölkern Zentral Brasiliens (Entre os aborígines do Brasil Central), que descreveu suas expedições anteriores, tornou-se um clássico instantâneo da antropologia, ainda em desenvolvimento na época. O livro marcou o tom para os estudos do século 20 sobre os povos amazônicos como pequenos grupos isolados vivendo em delicado equilíbrio com a floresta tropical: “O povo da Natureza”. Mais tarde, frequentemente os antropólogos viram o ambiente florestal, em geral, como não propício à agricultura; a pouca fertilidade do solo parecia excluir os grandes assentamentos ou as densas populações regionais.
Por esse motivo, a Amazônia do passado parece ter sido muito semelhante à Amazônia dos tempos atuais.

Porém, essa visão começou a cair por terra na década de 70, conforme os acadêmicos revisaram os relatos dos primeiros europeus sobre a região, que falavam não de tribos pequenas, mas de densas populações. Conforme o best seller de Charles Mann 1491 descreve com eloquência, as Américas eram densamente habitadas na véspera do desembarque dos europeus, e a Amazônia não era exceção. Gaspar de Carvajal, o missionário que escreveu as crônicas da primeira expedição espanhola rio abaixo, observou cidades fortificadas, estradas largas com boa manutenção e muitas pessoas. Carvajal escreveu em seu relato de 25 de junho de 1542:

Passamos entre algumas ilhas que pensávamos ser desabitadas, porém ao chegarmos por lá, tão numerosos eram os povoados que vieram à nossa vista... que nos afligiu... e, quando nos viram, saíram para nos encontrar no rio em mais de duas centenas de pirogas [canoas], carregando 20 a 30 índios em cada uma, e algumas até com 40... estavam enfeitados com cores e vários emblemas, e portavam várias cornetas e tambores... e em terra, uma coisa maravilhosa de ver foram as formações de grupos que ficavam nas aldeias, todos tocando instrumentos e dançando em toda parte, manifestando grande alegria ao nos ver passando pelas suas aldeias.
A pesquisa arqueológica em várias áreas ao longo do rio Amazonas, como a ilha do Marajó na foz do rio e sítios próximos às modernas cidades de Santarém e Manaus, confirma esses relatos. Essas tribos interagiam em sistemas de comércio que se espalhavam até localidades remotas. Sabe se menos das localidades mais próximas dos limites ao sul da Amazônia, mas um trabalho recente em Llanos de Mojos nas várzeas da Bolívia e no estado do Acre sugere que eles também apresentaram sociedades complexas. Em 1720, o guarda de fronteira Antonio Pires de Campos descreveu uma paisagem densamente habitada na cabeceira do rio Tapajós, pouco a oeste de Xingu:

Esses povos existem em um número tão enorme que não é possível contar seus povoados ou aldeias, [e] muitas vezes em um dia de marcha passa-se por 10 a 12 aldeias, e em cada uma há de 10 a 30 habitações, e dentre essas casas há algumas que medem 30 ou 40 passos de largura... até mesmo suas ruas, que eles fazem bem retas e largas são mantidas tão limpas que não se encontra nenhuma folha caída...

Uma Antiga Cidade Murada
Quando me aventurei no Brasil, no início da década de 90, para estudar a profunda história do Xingu, as cidades perdidas nem sequer passavam pela minha mente. Eu lera Steinen, mas mal ouvira falar de Fawcett. Embora muito da vasta bacia amazônica fosse terra arqueológica desconhecida, não era provável que os etnógrafos, muito menos os xinguanos, tivessem ignorado um enorme centro monolítico se erguendo sobre as florestas tropicais.

No entanto, resquícios de algo mais elaborado que as aldeias ainda hoje existentes estavam em toda a parte. Robert Carneiro, do American Museum of Natural History, de Nova York, que morou com os cuicuro na década de 50, sugeriu que o estilo de vida organizado e a economia produtiva agrícola e pesqueira poderiam suprir comunidades muito mais substanciais, mil a 2 mil vezes maiores – várias vezes a população contemporânea de algumas centenas. Ele também registrou evidências de que, na realidade, a área já teve um sítio pré-histórico (designado X11 em nossa pesquisa arqueológica) cercado de imensos fossos. Os irmãos Villas Boas – indianistas brasileiros indicados para o Prêmio Nobel da Paz pela sua participação na criação do Parque do Xingu – já tinham relatado esses trabalhos no solo perto de muitas aldeias.


Em janeiro de 1993, logo após eu ter chegado à aldeia dos cuicuro, o principal chefe hereditário, Afukaka, me levou a uma das valas no sítio (X6) por eles denominada Nokugu, que recebeu o nome do espírito de onça que se pensa lá habitar. Passamos por moradores locais que construíam um enorme açude de peixes ao longo do rio Angahuku, já cheio devido às chuvas sazonais. O fosso, que corre por mais de 2 km, tinha 2 a 3 metros de profundidade e mais de 10 metros de largura. Embora eu tivesse a expectativa de encontrar uma paisagem arqueológica diferente da atual, a escala dessas comunidades antigas e de suas construções me surpreendeu. Os assistentes de pesquisa cuicuro e eu passamos os meses seguintes mapeando esse e outros trabalhos no solo no sítio de 45 hectares.

Desde essa época, nossa equipe estudou vários outros sítios na área, analisando mais de 30 km em linha reta em transectos através da floresta, mapeando, examinando e escavando os sítios. No final de 1993, Afukaka e eu voltamos para Nokugu, para que eu relatasse o que aprendi. Seguimos os contornos do fosso externo do sítio e paramos ao lado de uma ponte de terra, por onde costumava passar uma estrada enorme que tínhamos desenterrado. Apontei para uma antiga estrada de terra, totalmente reta, com largura de 10 a 20 metros, que levava para outro sítio antigo, Heulugihïtï (X13), a cerca de 5 km de distância. Atravessamos a ponte e entramos em Nokugu.

A estrada, margeada por meios-fios baixos de terra, abriu-se até 40 metros – largura das autoestradas modernas de quatro pistas. Percorridas algumas centenas de metros, passamos por cima do fosso interno e paramos para observar o interior da trincheira escavada recentemente, onde tínhamos encontrado uma base em forma de funil, para uma paliçada de tronco de árvore. Afukaka contou-me uma história a respeito de aldeias construídas sobre paliçadas e ataques-surpresa em um passado remoto.

Caminhamos por trechos de floresta, arbustos e áreas desmatadas que agora cobrem o sítio, marcas de atividades variadas no passado. Saímos em meio a uma clareira gramada cercada de enormes palmeiras que marcavam uma antiga praça. Girei devagar e apontei a borda perfeitamente circular da praça, marcada por uma elevação de um metro de altura. Expliquei a Afukaka que as altas palmeiras lá se instalaram séculos atrás, a partir de jardins de compostagem em áreas domésticas.
Deixando a praça para explorar as redondezas, nos deparamos com altos sambaquis, depósitos de restos, que muito se assemelhavam aos de trás da casa do próprio Afukaka. Estavam repletos de recipientes quebrados, exatamente iguais, nos mínimos detalhes, aos utilizados pelas esposas da tribo para processar e cozinhar a mandioca. Em uma visita posterior, quando escavávamos uma casa pré-colombiana, o chefe curvou-se dentro da área central da cozinha e retirou um enorme fragmento de cerâmica. Disse que concordava com minha impressão de que o cotidiano da sociedade antiga era muito semelhante ao atual. “Você está certo!”, Afukaka exclamou. “Veja, um apoio de panela” – um undagi, como os cuicuro o chamam, usado para o cozimento da mandioca.

Essas ligações fazem dos sítios dos xinguanos locais muito fascinantes, que se encontram entre os poucos assentamentos pré-colombianos na Amazônia onde a evidência arqueológica pode ser conectada diretamente com os costumes atuais. Em outros locais, a cultura indígena foi totalmente dizimada ou o registro arqueológico está disperso. A antiga cidade murada que mostrei a Afukaka era muito parecida com a aldeia atual, com sua praça central e estradas radiais, apenas eram dez vezes maiores.

Da Oca à Organização Política
“Suntuosa” não é uma palavra que, em geral, venha à mente para descrever uma casa com um tronco central e sapé. Ocidentais pensam em uma “cabana”. Mas a casa que os cuicuro erguiam para o chefe em 1993 era enorme: bem mais de 1 mil m2. É difícil imaginar que uma casa construída como um cesto gigante virado para baixo, sem uso de pedras, cimento ou pregos pudesse ficar tão grande. Mesmo a casa comum de um xinguano com 250 m2 é tão grande quanto uma casa média americana.

O que faz a casa do chefe sobressair não é apenas o tamanho, mas também a sua posição, localizada no ponto mais ao sul da praça central circular. Quando se entra na aldeia pela estrada de acesso formal, as famílias de boa posição moram à direita (sul) e à esquerda (norte). O arranjo reproduz, em escala maior, a planta de uma casa individual, cujo ocupante de posição destacada pendura a sua rede à direita, ao longo do comprido eixo da casa. A estrada de acesso corre aproximadamente de este a oeste; na casa do chefe, sua rede fica posicionada na mesma direção. Quando um chefe morre, ele também é deixado em uma rede com a cabeça voltada para o oeste.
Este cálculo corpóreo básico é aplicado em todas as escalas, de ocas a toda a bacia do Alto Xingu. As aldeias antigas são distribuídas pela região e interconectadas por uma rede de estradas alinhadas com precisão. Quando cheguei pela primeira vez à área, levei semanas para mapear valas, praças e estradas usando as técnicas padrões de arqueologia. No início de 2002, começamos a usar o GPS, que nos permitiu mapear a maior parte dos trabalhos no solo em questão de dias. Descobrimos um grau impressionante de integração regional. O planejamento parece quase determinado, com um lugar específi co para tudo. No entanto, fundamentava-se nos mesmos princípios básicos das aldeias atuais. As estradas principais correm do leste para o oeste, as secundárias se irradiam para fora do norte e do sul e as menores proliferam em outras direções.

Mapeamos dois agrupamentos hierárquicos de povoados e aldeias em nossa área de estudo. Cada um consistia em um centro principal cerimonial e várias aldeias satélites grandes em posições precisas em relação ao centro. Essas cidades provavelmente tinham mil ou mais habitantes. As aldeias menores estavam localizadas mais longe do centro. O agrupamento do norte está centrado no X13, que não é uma cidade, e sim um centro de rituais, semelhante a um terreno para festividades. Dois grandes povoados murados estão distribuídos de forma equidistante ao norte e ao sul do X13, e dois povoados murados, de tamanho médio, estão em posições equidistantes ao nordeste e sudoeste. O agrupamento do sul é ligeiramente diferente. Está centrado no X11, que é ao mesmo tempo uma aldeia e um centro de rituais, ao redor do qual estão povoados de tamanho médio e pequeno.

Na área de terra, cada núcleo populacional ocupava mais de 250 km2, dos quais cerca de um quinto consistia em área central construída o que, grosso modo, é equivalente a uma pequena cidade moderna. Nos dias de hoje, a maior parte da paisagem antiga está coberta por vegetação, mas a floresta nas áreas centrais tem uma concentração distinta de certas plantas, animais, solos e objetos arqueológicos, como muita cerâmica. O uso do solo foi mais intenso no passado, mas os vestígios sugerem que muitas práticas antigas eram semelhantes às dos cuicuro: pequenas áreas de plantio de mandioca, pomares com árvores de pequi e campos de sapé – o material preferido para coberturas de choupanas. O campo era uma paisagem de retalhos, intercalada por áreas de floresta secundária que invadiram as áreas agrícolas não cultivadas. Zonas úmidas, agora infestadas de buritis, a mais importante cultura industrial, preservam diversas evidências de piscicultura, como lagos artificiais, calçadas elevadas e fundações de açudes. Fora das áreas centrais, existia um cinturão verde menos povoado e até uma densa faixa florestal entre as diversas aldeias. A floresta também tinha seu valor como fonte de animais, plantas medicinais e de certas árvores, além de ser considerada a morada de vários espíritos da floresta.

As áreas dentro e ao redor de sítios residenciais estão marcadas por terra escura, egepe segundo os cuicuro, um solo extremamente fértil, enriquecido por lixo domiciliar e atividades especializadas de manejo de solo, como queimadas controladas da cobertura vegetal. Em todo o planeta o solo foi alterado, tornando-o mais escuro, mais argiloso e rico em certos minerais. Na Amazônia, essas mudanças foram especialmente importantes para a agricultura de muitas áreas, já que o solo natural é bem pobre. No Xingu, a terra escura é menos abundante em certas áreas, já que a população nativa depende principalmente do cultivo da mandioca e dos pomares, que não necessitam de solo muito fértil.
A identificação de grandes núcleos populacionais murados, espalhados numa área comparável à de Sergipe, sugere que havia, no mínimo, 15 agrupamentos espalhados pelo Alto Xingu. Entretanto, como a maior parte da região não foi estudada, a quantidade correta pode ter sido muito superior. A datação por radio-carbono dos sítios já escavados sugere que os ancestrais dos xinguanos chegaram à região, vindos do oeste, e começaram a modifi car as florestas e a zona úmida a seu critério cerca de 1.500 anos atrás ou até antes disso. Nos séculos que antecederam a descoberta da América pelos europeus, os sítios foram reformados, passando a compor uma estrutura hierárquica. Os registros existentes chegam apenas até 1884, portanto os padrões de povoação acabam sendo a única forma de estimar a população pré-colombiana; a escala dos povoamentos sugere uma população muito superior à atual, chegando de 30 a 50 mil indivíduos.

Cidades-Jardins da Amazônia
Há um século, o livro Garden cities of tomorrow (Cidades-jardins do futuro), de Ebenezer Howard, propôs um modelo para um crescimento urbano sustentável de baixa densidade populacional. Um precursor do movimento ecológico atual, Howard idealizou cidades interligadas como uma alternativa para um mundo industrial, repleto de cidades com arranha-céus. Sugeria dez cidades com dezenas de milhares de habitantes, que teriam a mesma capacidade funcional e administrativa que uma só megacidade.

Os antigos xinguanos parecem ter construído esse sistema, um tipo de urbanismo de estilo verde ou protourbanismo – uma incipiente cidade-jardim. Talvez Percy Fawcett estivesse no lugar certo, mas com o foco equivocado: cidades de pedra. O que faltava aos centros em termos de pequena escala e elaboração estrutural, os xinguanos conseguiam alcançar pela quantidade de cidades e por sua integração. Se Howard tivesse conhecimento de sua existência, poderia ter-lhes devotado um trecho no Garden cities of yesterday (Cidades-jardins do passado). O conceito comum de cidade como uma densa rede de prédios de alvenaria remonta à época das antigas civilizações dos oásis nos desertos, como na Mesopotâmia, mas que não possuíam as mesmas características ambientais. Não só as florestas tropicais amazônicas, como também as paisagens das florestas temperadas da maior parte da Europa medieval, eram pontilhadas por cidades e vilarejos de tamanhos similares a essas no Xingu.

Essas visões são especialmente importantes na atualidade por causa da retomada do desenvolvimento do sul da Amazônia, desta vez pelas mãos da civilização ocidental. A floresta do sul amazônico, em transição, está se convertendo rapidamente em áreas cultivadas e de pastagens. Seguindo o ritmo atual, no decorrer da próxima década a floresta se reduzirá a 20% de sua área original. Muito do que resta fi cará restrito a reservas, como as do Xingu, onde os povos indígenas são os comandantes da biodiversidade restante. Nessas áreas, sob muitos aspectos, a salvação das florestas tropicais e a proteção da herança cultural indígena são partes de um só todo. 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL ENTRA PARA A GRADE CURRICULAR 2015 EM CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO (MG)


O Projeto EDUCAR de educação patrimonial ganhou mais amplitude em 2015. Após dois anos em prática, as aulas sobre a cultura de Conceição do Mato Dentro serão realizadas em todas as escolas da rede municipal de ensino, da sede urbana e dos distritos.
Com atividades que superam as linhas do caderno, os alunos aprendem sobre os movimentos culturais e artísticos e estudam de perto as estruturas barrocas que caracterizam os monumentos do município.

Nos anos de 2013 e 2014, o projeto EDUCAR foi realizado com um número reduzido de turmas, mas gerou resultados surpreendentes. Dentre as propostas do trabalho, está a publicação e divulgação dos resultados alcançados com os alunos, como a cartilha de educação patrimonial publicada em 2013. Para este ano, está programada uma feira cultural onde os alunos farão a apresentação dos trabalhos.
Para a secretária municipal de cultura e patrimônio histórico, Julia Santana, “ensinar o que é patrimônio é fazer com que as crianças se apropriem do seu bem maior que é a sua história. Uma história que, por mais distante que pareça estar, ainda pode ser vista e experimentada por meio dos nossos bens materiais e imateriais. Esse contato com o passado é importante para a formação do indivíduo, pois proporciona o fortalecimento das suas raízes e o respeito às demais culturas.”


Fonte: Folha de Guanhães

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

CANOA ENCONTRADA NO RIO GRANDE, EM ANDRELÂNDIA, TEM MAIS DE 400 ANOS DE IDADE


Nova descoberta reforça o interesse arqueológico pelos rios do Sul de Minas Gerais

Achados incríveis - Em 1999, no Rio Aiuruoca, na divisa entre Andrelândia e São Vicente de Minas, ocorreu um achado espetacular: duas canoas com aparência muito antiga, submersas no rio, foram localizadas e retiradas. A menor delas foi logo transformada em um cocho para gado por um fazendeiro local e perdida; a outra, com 10,5 metros de comprimento, felizmente foi salva graças à iniciativa de pessoas esclarecidas e encontra-se atualmente sob a responsabilidade da Prefeitura Municipal de São Vicente. 
Em 2009 o Núcleo de Pesquisas Arqueológicas do Alto Rio Grande - NPA  - que atua na área desde 1986, conseguiu viabilizar a datação por radiocarbono dessa canoa. O resultado indica que ela foi construída por volta de 1660, cerca de duas décadas antes do contato entre brancos e índios na região. É bastante provável que a segunda canoa fosse da mesma época.
Em outubro de 2014, outro achado incrível na mesma região: uma canoa com 9,1 metros de comprimento foi localizada no Rio Grande, na divisa entre Andrelândia e Santana do Garambéu, quando o nível da água estava excepcionalmente baixo devido à grande seca de 2014. Encontrada inicialmente pelo garoto Douglas Fonseca, de 09 anos, o objeto, que corria risco, foi resgatado do rio por membros e colaboradores do NPA e transferido para o Parque Arqueológico da Serra de Santo Antônio. 
Achados do tipo são muito raros no Sudeste e sua importância histórica é enorme. O fato de terem sido encontradas 3 canoas do século XVII na mesma região sugere que os rios de lá devem estar guardando novas surpresas. E, se há algum benefício que possa ser extraído do nível baixo dos rios nos últimos meses, é a maior facilidade de realizar este tipo de achado.

Produção indígena - Em janeiro deste ano o NPA providenciou o envio de uma amostra da madeira da canoa para o Laboratório Beta Analytics, situado em Miami, nos EUA, e o resultado da datação por radiocarbono indica que a embarcação foi construída por volta de 1610, ou seja, cerca de 70 anos antes da chegada das primeiras bandeiras paulistas na região. 
A datação confirma que a canoa tem procedência indígena, fato que já havia sido aventado pelos membros do NPA, pois a peça, escavada em um único tronco de madeira, não tem sinais aparentes de utilização de ferramentas modernas como serras ou formões e apresenta marcas de utilização de fogo para a sua confecção, o que se sabe que era uma antiga técnica dos índios.

Desafios
 - Arqueólogos e restauradores da Universidade Federal de Minas Gerais e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional já foram contatados pelo NPA para dar continuidade aos estudos sobre a embarcação e definir a melhor forma de sua conservação.
O NPA está buscando recursos para construir instalações especiais para a preservação e exibição da canoa no Parque Arqueológico da Serra de Santo Antônio. Até o momento todos os gastos com resgate, transporte, proteção e datação da canoa foram custeados por membros e colaboradores do NPA.

Maiores informações: www.npa.org.br