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terça-feira, 30 de outubro de 2018
sexta-feira, 29 de maio de 2015
Novos fósseis da Etiópia vêm complicar mais a história da evolução humana
Muito perto do sítio onde se tinha descoberto, em 1974, o
esqueleto de Lucy, o australopiteco mais famoso, encontraram-se agora alguns
ossos da cara de um pré-humano. Têm cerca de 3,5 milhões de anos e a equipa que
os descobriu diz que são de uma nova espécie de australopiteco. Mas há
cientistas que já discordam.
Primeiro
os factos: a revista Nature publica esta quinta-feira um
artigo científico que anuncia a descoberta de uma nova espécie de
australopiteco. A equipe de Yohannes Haile-Selassie, do Museu de História
Natural de Cleveland, nos EUA, chama-lhe Australopithecus deyiremeda e
fundamenta a existência deste novo australopiteco na descoberta de duas
mandíbulas e de um maxilar, com 3,3 a 3,5 milhões de anos, na região de Afar,
na Etiópia, em 2011. Muito perto desse sítio tinha-se encontrado, em 1974, o
celebérrimo esqueleto de Lucy, uma fêmea da espécie Australopithecus
afarensis. Para a equipa, os novos fósseis são uma confirmação indubitável
de que pelo menos duas espécies de pré-humanos viveram na mesma região e ao
mesmo tempo, numa altura em que já não faltava muito para o aparecimento do
género Homo — ou seja, dos primeiros humanos.
Actualmente,
já se sabe que entre há três e quatro milhões de anos, na época do Plioceno
Médio, o planeta era povoado por mais do que uma espécie de hominíneos — a
subfamília de todos os nossos antepassados a seguir à separação do ramo dos
chimpanzés, o que ocorreu há cerca de oito milhões de anos. Hoje, somos o único
membro dessa subfamília. Mas nem sempre a ideia de existência de vários
hominíneos no Plioceno Médio, e na mesma área geográfica, foi facilmente aceite.
Essa altura é particularmente importante na história da evolução humana por ser
pouco tempo antes do aparecimento dos humanos.
Durante
muito tempo, parecia que uma espécie de hominíneos tinha dado lugar a outra e
depois esta a outra, até que apareceram os primeiros Homo, há 2,8 milhões de
anos. Era pelo menos o que se pensava que indicavam os fósseis que se iam
descobrindo. Só que a árvore da evolução humana tem muitos ramos, alguns
simultâneos, que secaram pelo caminho — no fundo, experiências evolutivas que
não desembocaram em nada.
A ideia
da coexistência de vários hominíneos ganhou peso com a descoberta dos fósseis
do Australopithecus bahrelghazali (embora hoje haja dúvidas
de que se trate de um novo australopiteco e muitos cientistas consideram-no, afinal,
um Australopithecus afarensis), em 1995 no Chade, e do Kenyanthropus
platyops, em 1998 no Quénia. Tanto o Australopithecus
bahrelghazali como o Kenyanthropus platyops (ou
“homem do Quénia com face plana”) viveram justamente há cerca de 3,5 milhões de
anos no Leste de África — ou seja, na mesma altura e na mesma área geográfica
de Lucy, cuja descoberta representou um marco na paleoantropologia e ainda hoje
é uma super-estrela entre os fósseis pré-humanos.
Classificada
logo em 1978 como Australopithecus afarensis, a Lucy viveu há 3,2
milhões de anos, media cerca de um metro de altura e — o mais surpreendente —
já era bípede. Até à descoberta do seu esqueleto, não existiam provas concretas
desse modo de locomoção numa espécie de hominíneos com mais de dois milhões de
anos. Os ossos da bacia, das pernas e dos pés de Lucy foram provas essenciais.
Além de caminharem em duas pernas, sabemos agora que os indivíduos da mesma
espécie de Lucy — que existiu num período de tempo entre há 3,8 e 2,9 milhões
de anos — também se sentiam confortáveis em trepar às árvores.
Agora, a
equipa coordenada por Yohannes Haile-Selassie encontrou o maxilar, ainda com os
dentes, e as duas mandíbulas (de indivíduos diferentes, portanto) de um
hominíneo na área de Woranso-Mille, na região de Afar. Em Março de 2011, os
cientistas estavam à procura de fósseis naquela área porque já tinham
encontrado aí a impressão parcial de uma pegada de hominíneo, datada com 3,4
milhões de anos e que consideraram, num artigo na revista Nature em
2012, revelar uma nova maneira de andar e confirmar a diversidade nos
hominíneos do Plioceno Médio. “O espécime era contemporâneo do Australopithecus
afarensis, mas demonstrava a existência de um modo distinto de locomoção
bípede”, lembra agora a equipa de Yohannes Haile-Selassie.. Mas sem ossos do
crânio, incluindo mandíbulas, maxilares e dentes, era difícil identificar o
autor da pegada parcial.
Encontraram
realmente ossos, mas como nenhum estava associado à pegada parcial, continua a
não ser possível atribuir-lhe um autor. Mas a equipa considerou que lhe saiu na
mesma a sorte grande, uma vez que classificou os ossos como sendo de uma nova
espécie de australopiteco. Os cientistas consideraram que, apesar de os ossos
da cara e os dentes terem mais características de australopiteco do que de
outros hominíneos, tinham diferenças suficientes para serem atribuídos a uma
espécie nova de australopiteco. Eis assim o Australopithecus
deyiremeda, em que a designação específica é composta por duas palavras da
língua da região de Afar: deyi, que significa “próximo”, eremeda,
que quer dizer “parente”, porque, argumentam os cientistas, “esta espécie é um
parente próximo de todos os hominíneos posteriores”.
Fonte: Publico
Link: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/novos-fosseis-da-etiopia-vem-complicar-um-pouco-mais-a-historia-da-evolucao-humana-1697112
segunda-feira, 20 de abril de 2015
Canais de civilização anterior aos Incas podem solucionar a crise hídrica de Lima
Estudo mostrou que sistema de aquedutos do povo Wari construído nos Andes há 1500 anos pode reduzir déficit de água em 60% - é a opção mais eficaz para acabar com o racionamento
Toda essa água acaba indo parar no Oceano Pacífico. Para evitar os cortes no abastecimento da cidade, o caminho mais lógico a se seguir seria dar um jeito de reaproveitar esse volume todo durante a estação seca.
Um estudo recente comprovou que a melhor solução para o problema já havia sido inventada há 1500 anos pelo povo Wari, uma civilização que prosperou no local séculos antes do império Inca.
Eles criaram um sistema de canais de pedra que chamavam de amunas, cujo funcionamento era relativamente simples mas muito eficaz: no período de cheia, parte da água dos rios Rimac, Chillon e Lurin era desviada do alto das montanhas para regiões onde pudesse se infiltrar entre as pedras.
Seguindo um sistema sem impactos ambientais, o líquido abastece naturalmente riachos que correm em níveis mais baixos da cordilheira, garantindo que o curso não seque durante os sete meses áridos.
“A ideia é construir um atraso no sistema hidrológico, retardando o fluxo de água por semanas ou mesmo meses, até que beneficie o abastecimento na temporada seca”, explicou a New Scientist Bert De Bièvre, hidrólogo da ONG local Condesan, que realizou o estudo em parceria com a ONG Forest Trends, de Washington.
O projeto descobriu que, reforçando a estrutura já existente de cerca de 50 amunas com concreto, seria possível acrescentar um montante de 26 milhões de metros cúbicos ao abastecimento de Lima durante os tempos de seca, o suficiente para reduzir o déficit atual da cidade em 60%.
Os pesquisadores concluíram também que, entre as alternativas disponíveis, esta é, de longe, a mais eficiente: ela custa um centésimo do valor de uma usina de dessalinização que está sendo estudada pelas autoridades locais.
A Sedapal, companhia que gerencia o abastecimento em Lima, anunciou que financiará o projeto das amunas – ao longo de cinco anos, 1% da arrecadação com as contas de água serão usados para arcar com os custos, estimados em 23 milhões de dólares.
FONTE: GALILEU
sexta-feira, 3 de abril de 2015
Geoglifos do Acre são indicados para lista de patrimônios mundiais
Geoglifos acreanos foram indicados para se tornar patrimônio mundial em 2015
Foto: Diego Gurgel
Além dos geoglifos, a nova lista brasileira teve outros cinco monumentos: Teatros da Amazônia (AM e PA), Itacoatiaras do Rio Ingá (PB), Barragem do Cedro nos Monólitos de Quixadá (CE), Sítio Roberto Burle Marx (RJ) e o Conjunto de Fortificações do Brasil (AP, AM, RO, MS, SP, SC, RJ, BA, PE, RN).
A última atualização da Unesco, realizada em 2014, incluiu três patrimônios culturais brasileiros, fazendo com que o país ficasse com 18 bens naturais e culturais. Os três do ano passado foram: Cais do Valongo (RJ), a Vila Ferroviária de Paranapiacaba (SP) e o Ver-o-Peso (Belém/PA). A partir de agora, com os seis novos indicados, serão 24 bens, incluindo os geoglifos do Acre.
Mas o que fazer parte desta lista indicativa representa? A exposição como um patrimônio cultural facilita as iniciativas e esforços para a preservação dos bens, tanto em âmbito local e regional, quanto nacional e até internacional. Também chama a atenção para que entidades representativas e até empresas em contato com a Convenção do Patrimônio Mundial da Unesco explorem, com responsabilidade, o potencial turístico destes bens culturais.
Saiba mais sobre os geoglifos - As primeiras figuras descobertas dos geoglifos foram descobertos em 1927, na linha de Nazca, no Peru. Apenas no final da década de 70, em 1977, eles foram encontrados também no Acre, após um pesquisador notá-los em um voo comercial. Desde então, passaram a ser estudos mais a fundo, ganhando ampla repercussão no Brasil e no exterior. Centenas de figuras já foram achadas e catalogadas aqui.
Os geoglifos são figuras geométricas, feitas de estruturas de terra escavadas no solo e formadas por valetas e muretas. Há um grande mistério sobre que povos teriam construído os geoglifos. Pesquisas arqueológicas indicam a possibilidade de terem sido grupos indígenas que teriam habitado a região leste do Acre e sudoeste da Amazônia em sociedades pré-coloniais.
FONTE: A Gazeta do Acre
terça-feira, 31 de março de 2015
Quinze mudanças que nos fizeram humanos
Mudanças genéticas em ancestrais humanos determinaram "vantagens" na vida moderna.
Os humanos são provavelmente a espécie mais curiosa que já existiu.
Temos
cérebros muito maiores que os de outros animais e que nos permitem
construir utensílios, entender conceitos abstratos e usar a linguagem.
Mas também temos poucos pêlos, mandíbulas fracas e demoramos para dar à luz.
Como a evolução explica essa criatura extravagante?
1. Viver em grupo
Há 30-60 milhões de anos
Os primeiros primatas, grupo que inclui macacos e humanos, surgiram
pouco depois do desaparecimento dos dinossauros.
Muitos começaram
rapidamente a viver em grupos para melhor se defenderem de predadores, e
isso exigiu de cada animal "negociar" uma rede de amizades, hierarquias
e inimizades.
Sendo assim, viver em grupo pode ter impulsionado um aumento da capacidade intelectual.
2. Mais sangue no cérebro
Há 10-15 milhões de anos
Humanos, chimpanzés e gorilas descendem todos de uma espécie desconhecida e extinta de hominídeo.
Neste
ancestral, um gene chamado RNF213 evoluiu rapidamente e pode ter
estimulado o fluxo de sangue para o cérebro ao ampliar a artéria
carótida.
Nos humanos, as mutações do RNF213 causam a doença de
Moyamoya - um estreitamento da carótida que leva ao deterioramento da
capacidade cerebral por conta da pouca irrigação do cérebro.
3. A divisão dos primatas
Há 7-13 milhões de anos
Nossos ancestrais se separaram de seus parentes parecidos com os
chimpanzés há cerca de 7 milhões de anos. No início, tinham uma
aparência bem similar, mas por dentro suas células estavam em marcha.
Os genes ASPM e ARHGAP11B entraram em mutação, assim como um segmento do genoma humano chamado HAR1.
Ainda
não está claro o que provocou essas modificações, mas o ARHGAP11B e o
HAR1 estão associados ao crescimento do córtex cerebral
4. 'Picos' de açúcar
Depois que a linha evolutiva humana se separou da linha dos chimpanzés, dois genes sofreram mutações.
Há menos de sete milhões de anos
O SLC2A1 e o SLC2A4 formam proteínas que transportam glicose para dentro e para fora das células.
Essas
modificações podem ter desviado glicose dos músculos para o cérebro de
hominídeos primitivos e é possível que tenha estimulado o crescimento do
órgão.
5. Mãos mais hábeis
Nossas mãos são incrivelmente hábeis e nos permitem construir ferramentas ou escrever, entre outras atividades.
Há menos de 7 milhões de anos
Isso pode se dever em parte a um fragmento de DNA chamando HACNS1,
que evoluiu rapidamente desde que nossos ancestrais e os ancestrais dos
chimpanzés se dividiram.
Não se sabe o que o HACNS1 faz exatamente, mas ele contribuiu para o desenvolvimento de nossos braços e mãos.
6. Mandíbulas fracas: mais espaço para o cérebro
Em comparação com outros primatas, os humanos não podem morder com muita força porque têm músculos mais fracos em volta da mandíbula, bem como mandíbulas menores.
Há 2,4 - 5,3 milhões de anos
Isso parece se dever a uma mutação do gene MYH16, que controla a produção de tecido muscular. A mutação ocorreu há pelo menos 5 milhões de anos. Mandíbulas pequenas podem ter liberado espaço para o crescimento do cérebro.
7. Dieta variada
Nossos ancestrais primatas mais antigos comiam principalmente frutas, mas espécies posteriores como o Australopithecus ampliaram seu cardápio.
Há 1,8 - 3,5 milhões de anos
Além de se alimentar com uma variedade maior de plantas, como ervas,
comiam mais carne e inclusive a cortavam com ferramentas de pedra.
Mais carne levou ao consumo de mais calorias e menos tempo de mastigação.
8. Pelado, nu com a mão no bolso
Os humanos são quase pelados. Não se sabe a razão, mas isso ocorreu entre 3 e 4 milhões de anos atrás.
Há 3,3 milhões de anos
Suspeita-se que a perda de pelos tenha ocorrido em resposta à evolução de parasitas como carrapatos.
Exposta
ao sol, a pele humana escureceu e a partir de então todos nossos
ancestrais foram negros até que alguns humanos modernos deixaram os
trópicos.
9. Um gene de inteligência
Há 3,2 milhões de anos
Um gene chamado SRGAP2 foi duplicado três vezes em nossos ancestrais e,
como resultado, células cerebrais teriam desenvolvido mais conexões.
10. Cérebros maiores: primatas pensantes
Os humanos pertencem a um grupo ou gênero de animais conhecido como Homo. O fóssil mais antigo de Homo foi escavado na Etiópia e tem 2,8 milhões de anos.
Há 2,8 milhões de anos
A primeira espécie foi possivelmente o Homo habilis, embora cientistas discordem deste argumento. Em comparação com seus ancestrais, esses novos hominídeos tinham cérebros muito maiores.
11. Parto complicado: uma cabeça muito grande
Para os humanos, o parto é mais difícil e perigoso.
Há pelo menos 200 mil anos
Diferentemente de outros primatas, as mães quase sempre precisa de ajuda.
Caminhar
sobre duas pernas fez com que as fêmeas humanas tenham um canal pélvico
mais estreito e passagem de um bebê humano com a cabeça maior de seus
ancestrais ficou dificultada.
Para compensar esse "problema logístico", bebês humanos nascem pequenos e indefesos.
12. Controle do fogo
(Há 1 milhão de anos)
Ninguém sabe quando os humanos aprenderam a controlar o fogo.
A evidência mais antiga do uso do fogo está na Caverna de Wonderwerk,
na África do Sul, que contém cinzas fossilizadas e ossos queimados
datando de um milhão de anos.
Mas alguns especialistas afirmam que
o fato de homem já ser capaz de processar alimentos há mais tempo do
que isso poderia incluir o ato de cozinhar.
13. O dom da fala
Todos os grandes hominídeos têm sacos de ar em seus traços vocais, o que lhes permite emitir fortes gritos.
Há 600 mil - 1,6 milhão de anos
Mas não os humanos, porque essas bolsas fazem impossível produzir diferentes sons.
Nossos ancestrais aparentemente perderam os sacos de ar antes de se
separar em termos evolucionários da espécie Neanderthal, o que sugere
que eles também podiam falar.
14. Um gene para a linguagem
Algumas pessoas têm uma mutação em um gene chamado FOXP2.
Há meio milhão de anos
Como resultado, custa a elas entender gramática e pronunciar palavras. Isso sugere que o FOXP2 é crucial para aprender o uso da linguagem.
15. Saliva reforçada para comer carboidratos
A saliva humana contém uma enzima chamada amilasa, fabricada pelo gene AMY1, e que digere amidos.
Humanos descendentes de agricultores têm mais cópias do gene AMY1
Os humanos modernos cujos ancestrais foram agricultores têm mais
cópias do AMY1 que aqueles cujos ancestrais era caçadores, por exemplo.
Este reforço digestivo pode ter ajudado a dar início ao cultivo, aos povoados e às sociedades modernas.
FONTE: BBC Brasil
A Fundação da Cidade do Rio de Janeiro
A entrada da Baía de Guanabara devia ser uma verdadeira “Babilônia de
águas e ilhas”, como imaginou o historiador Varnhagen sobre a geografia
da região no final do século XVI. A frota comandada por Estácio de Sá
chegou na guanabara no dia 28 de fevereiro de 1565, e seus navios eram
castigados por uma chuva intensa que esteve presente ao longo dos
primeiros dias da empreitada. Com a missão de construir um povoado no
coração do território tamoio, onde habitavam indígenas inimigos dos
portugueses, a localização ideal para a instalação do arraial era uma
grande preocupação do capitão Estácio.
Em uma posição estratégica favorável, Estácio de Sá escolheu um istmo
da península de S. João, uma faixa de terra à sombra do monte conhecido
como Pão de Açúcar para ser o local de fundação do novo povoado. Ali,
no dia 1º de março de 1565, Estácio ordenou que se erguesse uma cerca
que seria o núcleo inicial da muy leal e heroica cidade de São
Sebastião.
“(…) começaram a roçar em terra com grande fervor e cortar madeira
para a cêrca”, relata o jesuíta José de Anchieta, que acompanhava a
missão. Ainda sob forte chuva, os primeiros colonizadores passaram o
primeiro dia cortando madeira e retirando o mato, “ocupando-se cada um
em fazer o que lhe era ordenado por ele (Estácio), a saber: cortar
madeira, e acarretá-la aos ombros, terra, pedra, e outras coisas necessárias para a cêrca, sem haver nenhum que a isso repugnasse; desde o
capitão-mór até o mais pequeno todos andavam e se ocupavam em
semelhantes trabalhos”.
A chuva que caía inclemente foi interpretada pelos homens de Estácio
como um sinal de ajuda divina, já que não havia água boa perto do
cercado. O grande volume de água era o suficiente para abastecer o
povoado ao longo das próximas semanas. “(…) e porque naquele lugar não
havia mais que uma légua de ruim água, e esta era pouca, o dia que
entrámos choveu tanto que se encheu, e rebentaram fontes em algumas
partes, de que bebeu todo o exercito em abundância, e durou até que se
achou água boa num poço, que logo se fez; (…) e se vão firmando mais na
vontade que traziam de levar aquela obra ao cabo, vendo-se tão
particularmente favorecidos da Divina Providencia”, relata Anchieta em
carta ao Provincial de Portugal.
Preocupado com os futuros ataques dos tamoios, o cercado logo se
transformou em um abrigo murado. À essa povoação deu Estácio de Sá o
nome de São Sebastião, em homenagem ao santo patrono do Rei de Portugal.
Evangelho nas Selvas, por Benedito Calixto (1893). Divulgação: Pinacoteca do Estado de São Paulo
Não era nada fácil a vida dos povoadores portugueses no
arraial de São Sebastião. A povoação era alvo constante dos ataques de
Aimberê e de seus índios tamoios. A missão de Estácio era uma só:
sobreviver. Enquanto aguardava reforços de seu tio, Mem de Sá, e da
coroa portuguesa, Estácio deveria repelir a todo custo os ataques
indígenas e manter a fortificação viva.
Não se passou nem uma semana da fundação da cidade e um grande ataque
dos tamoios ao arraial se deu no dia 6 de março de 1565. Aproveitando
as frágeis defesas da fortificação, Aimberê estava convicto de que
precisava expulsar os portugueses da região o mais rápido possível. “Os
Tamoios começaram logo a fazer ciladas por terra e por mar; mas os
nossos não curava senão de cercar-se e fortalecer-se, parecendo-lhes que
não faziam pouco em defender dentro da cerca”, relatou José de
Anchieta. De acordo com o padre Leonardo do Vale, outra testemunha dos
ataques, era tão grande o número dos nativos que “parecia a ver cento
para cada um dos nossos”. O ataque dos índios foi repelido, sendo essa a
primeira vitória militar comandada por Estácio de Sá.
Vitória que mal podia ser comemorada, pois quatro dias depois,
Estácio seria testado novamente. No dia 10 de março, uma nau francesa
foi avistada na Baía de Guanabara pelos colonizadores apreensivos.
Receoso de um futuro ataque, Estácio de Sá resolve tomar a iniciativa e
comanda um ataque à embarcação francesa. O que ele não esperava era que
estava caindo em uma armadilha. Tão logo rumou contra a nau francesa, os
índios tamoios aproveitaram para atacar São Sebastião em 48 canoas,
como é relatado também pelo padre Leonardo do Vale. A vitória dos
portugueses foi tão significativa, que eles não apenas conseguem
derrotar os índios como também capturam a nau francesa.
Os feitos militares do capitão Estácio seriam mais do que suficientes
para elevar a moral e o espírito da povoação de São Sebastião. Mas
apesar das vitórias, os povoadores passaram dias de extremo sacrifício.
Além dos sucessivos ataques dos tamoios – que já era um enorme problema
por si só –, o arraial passou a viver sem provisões e com algumas crises
de fome ao longo dos primeiros meses. Para piorar a situação, José de
Anchieta registra que “o maior inconveniente que ali havia, ultra da
fome, é que estão lá muitos homens de todas as capitanias, os quais
passa de ano que lá andam, e desejam ir-se para suas casas; se os não
deixam ir perdem-se suas fazendas, e se os deixam ir fica a povoação
desamparada, e com grande perigo de serem comidos os que lá ficarem…”
Estácio contava com muitos homens provenientes de São Vicente em seu
grupo; colonizadores que deixaram suas terras para fundar a cidade. O
medo de que suas fazendas desprotegidas estariam sendo atacadas era
motivo suficiente para alguns pensarem em deserção, sem contar o cansaço
físico da longa campanha e a falta de alimentos que abatiam todos eles
A moral dos povoadores caía dia após dia. Lutando também para manter a
confiança e o espírito do grupo em alta, Estácio de Sá “nunca
descansava nem de noite e de dia”. Estácio precisava de ajuda, sem a
qual toda a missão estaria comprometida.
RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem Pitoresca Através do Brasil
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