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terça-feira, 31 de março de 2015

A Fundação da Cidade do Rio de Janeiro



A entrada da Baía de Guanabara devia ser uma verdadeira “Babilônia de águas e ilhas”, como imaginou o historiador Varnhagen sobre a geografia da região no final do século XVI. A frota comandada por Estácio de Sá chegou na guanabara no dia 28 de fevereiro de 1565, e seus navios eram castigados por uma chuva intensa que esteve presente ao longo dos primeiros dias da empreitada. Com a missão de construir um povoado no coração do território tamoio, onde habitavam indígenas inimigos dos portugueses, a localização ideal para a instalação do arraial era uma grande preocupação do capitão Estácio.

Em uma posição estratégica favorável, Estácio de Sá escolheu um istmo da península de S. João, uma faixa de terra à sombra do monte conhecido como Pão de Açúcar para ser o local de fundação do novo povoado. Ali, no dia 1º de março de 1565, Estácio ordenou que se erguesse uma cerca que seria o núcleo inicial da muy leal e heroica cidade de São Sebastião.
“(…) começaram a roçar em terra com grande fervor e cortar madeira para a cêrca”, relata o jesuíta José de Anchieta, que acompanhava a missão. Ainda sob forte chuva, os primeiros colonizadores passaram o primeiro dia cortando madeira e retirando o mato, “ocupando-se cada um em fazer o que lhe era ordenado por ele (Estácio), a saber: cortar madeira, e acarretá-la aos ombros, terra, pedra, e outras coisas necessárias para a cêrca, sem haver nenhum que a isso repugnasse; desde o capitão-mór até o mais pequeno todos andavam e se ocupavam em semelhantes trabalhos”.

A chuva que caía inclemente foi interpretada pelos homens de Estácio como um sinal de ajuda divina, já que não havia água boa perto do cercado. O grande volume de água era o suficiente para abastecer o povoado ao longo das próximas semanas. “(…) e porque naquele lugar não havia mais que uma légua de ruim água, e esta era pouca, o dia que entrámos choveu tanto que se encheu, e rebentaram fontes em algumas partes, de que bebeu todo o exercito em abundância, e durou até que se achou água boa num poço, que logo se fez; (…) e se vão firmando mais na vontade que traziam de levar aquela obra ao cabo, vendo-se tão particularmente favorecidos da Divina Providencia”, relata Anchieta em carta ao Provincial de Portugal.
Preocupado com os futuros ataques dos tamoios, o cercado logo se transformou em um abrigo murado. À essa povoação deu Estácio de Sá o nome de São Sebastião, em homenagem ao santo patrono do Rei de Portugal.

 Evangelho nas Selvas, por Benedito Calixto (1893). Divulgação: Pinacoteca do Estado de São Paulo





Não era nada fácil a vida dos povoadores portugueses no arraial de São Sebastião. A povoação era alvo constante dos ataques de Aimberê e de seus índios tamoios. A missão de Estácio era uma só: sobreviver. Enquanto aguardava reforços de seu tio, Mem de Sá, e da coroa portuguesa, Estácio deveria repelir a todo custo os ataques indígenas e manter a fortificação viva.
Não se passou nem uma semana da fundação da cidade e um grande ataque dos tamoios ao arraial se deu no dia 6 de março de 1565. Aproveitando as frágeis defesas da fortificação, Aimberê estava convicto de que precisava expulsar os portugueses da região o mais rápido possível. “Os Tamoios começaram logo a fazer ciladas por terra e por mar; mas os nossos não curava senão de cercar-se e fortalecer-se, parecendo-lhes que não faziam pouco em defender dentro da cerca”, relatou José de Anchieta. De acordo com o padre Leonardo do Vale, outra testemunha dos ataques, era tão grande o número dos nativos que “parecia a ver cento para cada um dos nossos”. O ataque dos índios foi repelido, sendo essa a primeira vitória militar comandada por Estácio de Sá.

Vitória que mal podia ser comemorada, pois quatro dias depois, Estácio seria testado novamente. No dia 10 de março, uma nau francesa foi avistada na Baía de Guanabara pelos colonizadores apreensivos. Receoso de um futuro ataque, Estácio de Sá resolve tomar a iniciativa e comanda um ataque à embarcação francesa. O que ele não esperava era que estava caindo em uma armadilha. Tão logo rumou contra a nau francesa, os índios tamoios aproveitaram para atacar São Sebastião em 48 canoas, como é relatado também pelo padre Leonardo do Vale. A vitória dos portugueses foi tão significativa, que eles não apenas conseguem derrotar os índios como também capturam a nau francesa.

Os feitos militares do capitão Estácio seriam mais do que suficientes para elevar a moral e o espírito da povoação de São Sebastião. Mas apesar das vitórias, os povoadores passaram dias de extremo sacrifício. Além dos sucessivos ataques dos tamoios – que já era um enorme problema por si só –, o arraial passou a viver sem provisões e com algumas crises de fome ao longo dos primeiros meses. Para piorar a situação, José de Anchieta registra que “o maior inconveniente que ali havia, ultra da fome, é que estão lá muitos homens de todas as capitanias, os quais passa de ano que lá andam, e desejam ir-se para suas casas; se os não deixam ir perdem-se suas fazendas, e se os deixam ir fica a povoação desamparada, e com grande perigo de serem comidos os que lá ficarem…” Estácio contava com muitos homens provenientes de São Vicente em seu grupo; colonizadores que deixaram suas terras para fundar a cidade. O medo de que suas fazendas desprotegidas estariam sendo atacadas era motivo suficiente para alguns pensarem em deserção, sem contar o cansaço físico da longa campanha e a falta de alimentos que abatiam todos eles
A moral dos povoadores caía dia após dia. Lutando também para manter a confiança e o espírito do grupo em alta, Estácio de Sá “nunca descansava nem de noite e de dia”. Estácio precisava de ajuda, sem a qual toda a missão estaria comprometida.

 RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem Pitoresca Através do Brasil


FONTE: Rio 450 anos

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